domingo, dezembro 29, 2013

Participação Mística

Nas cidades fomenta-se o eu, uma especialização, uma personalidade, um estilo e uma voz. Não existe lugar para todos mas acredita-se que ser alguém é ter um papel determinado, específico, diferente dos demais. Quando tal não sucede o habitante urbano sente-se inferiorizado, sem sentido.

No mundo rural é diferente. Existem pessoas-tipo que seguem tradições com funções que se repetem por gerações. A alegria do habitante do mundo rural é realizar sempre e uma vez mais os ritmos ancestrais em tarefas que todos sabem e podem fazer em conjunto, uns melhor outros pior, como se ligados estivessem aos antepassados e procurassem reproduzir o que sabem no interior. Quem não colabora sente-se infeliz, desligado. Claro que existem pessoas de destaque também no campo com mestrias determinadas mas quem domina são as almas que já partiram, os antigos, que trilharam os caminhos que se continuam a repetir, com as devidas variações naturais do tempo. Quem conta um conto acrescenta um ponto. E assim é. O importante é voltar a esse lugar imaginário sempre e outra vez.

Na cidade domina o verbal, o que se é e o que se queria ou deveria ser é afirmado, no campo o não-verbal. O conto é contado pelas próprias acções.


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