sábado, dezembro 12, 2009

Premiado no Festival InShadow




http://www.inshadowfestival.blogspot.com/

segunda-feira, novembro 16, 2009

quarta-feira, outubro 28, 2009

quarta-feira, setembro 30, 2009

Novo Concerto do Coral VivaVoz em Oeiras

Estão todos convidados para o próximo concerto do Coral VivaVoz!

Sábado, dia 3 de Outubro, pelas 15h no Auditório Municipal Maestro César Batalha, no Centro Comercial Galerias Alto da Barra, em Oeiras.

Google maps: http://www.mito-oeiras.com/espaco_cesarbatalha.html

Sejam muito bem-vindos!

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Quem somos?


Grupo Coral ViVaVoz

O Grupo Coral Viva Voz, criado pela Associação de Antigos Alunos e Amigos do Liceu Nacional de Oeiras/Escola Secundária Sebastião e Silva, integra cerca de 18 elementos (antigos e actuais alunos, professores e funcionários da escola, outras pessoas interessadas).
Foi formado a partir de sugestões de associados, durante as comemorações do cinquentenário da inauguração do Liceu de Oeiras, tendo a Direcção da Associação iniciado, em 2003, os contactos necessários para a sua constituição.
No entanto, só a partir de finais de 2006, sob a orientação do Maestro Luís Filipe Almeida, se desenvolveu um trabalho mais sistemático. Desde a sua criação em 2006, o Grupo Coral Viva Voz tem proporcionado, com a regularidade possível, audições a instituições/públicos diversificados.
Actuou por diversas vezes na Escola Secundária Sebastião e Silva, em Instituições de Solidariedade Social, na Igreja Lusitana, em Lisboa, na Biblioteca Municipal de Palmela e na Escola Secundária de Cascais.
O repertório é diversificado e constituído por música de diversas épocas. A variedade e características das peças até agora ensaiadas permitem uma abordagem intuitiva e descontraída à música coral – populares, espirituais, natalícias...., não só portuguesas, mas também de outros países.
Para participar no Viva Voz não é exigida qualquer formação musical específica e, para além dos associados, o Coro está aberto aos actuais e antigos alunos, professores, funcionários e à comunidade em geral.


Maestro Luís Filipe Almeida

O Maestro Luís Almeida é licenciado pela Escola Superior de Música no curso de Direcção Coral, tendo estudado sob orientação do Prof. Vasco Pearce de Azevedo; foi posteriormente convidado a leccionar a disciplina de Coro Geral, em parceria com a maestrina Isabel Ançã.
Frequentou as IV e V Jornadas de Música da Catedral da Sé de Évora onde trabalhou com os maestros Peter Philips, Francisco d’Orey e Fernando Eldoro.
Desenvolveu uma intensa actividade coral como cantor e maestro, nomeadamente no Grupo Coral dos Pequenos Cantores da Pontinha e Coral Lisboa Cantat, onde foi maestro assistente de Jorge Alves. Dirigiu ainda o Orfeão da Covilhã, o Coro de São Vicente, Grupo Coral de Santa Catarina e Coro In Extremis.
Em 2002, criou o “ensemble” vocal Capella Mundi com o objectivo de divulgar e interpretar o repertório coral do século XX e contemporâneo, e do qual é director artístico e cantor.
Actualmente, dirige o Coro ART, Coral ViVa Voz e Coro dos Pais e Amigos do Conservatório Nacional de Lisboa. É ainda maestro assistente de José Robert nos Coros da Universidade de Lisboa.
Como contratenor estuda canto com Joana Nascimento e participa activamente nos grupos corais Mensura e Carmina Antiqua, interpretando música renascentista e medieval.

domingo, setembro 13, 2009

Expressa-te! Alguns instrumentos do nosso corpo



A música da nossa coreografia 'we walk'

Movimento Contemporâneo

Ginásio Espaço ATL de Carnide, ESPASSUS
30 de ago
9h00 - 13h00 e 10h00 - 18h00

Destina-se a todos aqueles que pretendem realizar uma experiência performativa na dança Contemporânea.

Explora-se o movimento do corpo através de exercícios que visam aumentar a consciência corporal e postural. Desenvolve-se a utilização do corpo no espaço, fazendo uso da improvisação e do trabalho criativo, interpretativo e sensorial. O objectivo principal da aula é solicitar ao corpo actividade, preparação e versatilidade. Pôr o corpo em movimento trabalhando-o de uma forma construída, organizada para que possa usufruir da sua liberdade em consciência. A aula tem início no chão fazendo-se uma progressão para a vertical estabelecendo-se assim diferentes relações do corpo com a gravidade.

A prática inclui a improvisação e a composição, a pesquisa de movimento, individualmente ou em grupo, procurando potencialidades, qualidades coreográficas e, sobretudo, a presença dum corpo consciente e expressivo.

YANN GIBERT (França, Lyon 1981)|
Coreógrafo e executante. O seu corpo instrumento de trabalho é construído sobre a valorização da identidade e coreografado como material dramático. Nos últimos anos criou 3 solos curtos “FACE” – “Daqui Posso_Agora eu Penso“ – “6 juin 2003” e um trio (“3 Times” em colaboração com a Renata Catambas), após o questionamento do seu personagem no seu interior contexto teatral. Como um coreógrafo o seu trabalho foi produzido por: TDMI: FEE, BESA ME, NUL SI Découvert (2002/2004) – CEM / Casa dos Dias de Água: 1,2,3 PARA 1 BOY (2006) - EIRA 33: ARTISTA DO CORPO (2007) – Fórum Dança / IFP: Daqui EU POSSO / AGORA EU PENSO (2007) – NEC / O Espaço do Tempo / Fundação Serralves: 3 vezes (2007) – Festa da Dança 2008 / ZDB Negocio: 6 juin 2003 (2008)· Como um executante têm trabalhado com: Miguel Pereira: EURODANCE (projecto em curso) – Ana Borralho / João Galante: SEXY M / F – Sónia Gomez: EGOMOTION – Régine Chopinot: OCCC (hóspede sobre o processo) – André Murraças: untitled – PECA PARA UMA GALERIA. Além de sua criação artística Yann Gibert também realiza oficinas de composição baseada na reunião de uma certa sistematização do seu processo criativo de cada participante. Está em preparação a sua participação no projecto EURODANCE, coordenado por Miguel Pereira, uma peça para 6 bailarinos emigrantes europeus que vivem em Portugal há vários anos.





Técnica Vocal

CAMB - Centro de Arte Manuel de Brito
9, 10 e 11 de Set
10h00 - 13h00

Esta Acção de Formação pretende ajudar os profissionais a estabelecer uma relaçao mais saudavel com o seu instrumento vocal, de modo a que a comunicaçao possa ser segura, controlada e eficaz e assim se possa desenvolver cada vez mais uma identidade vocal propria.

Neste sentido serao trabalhados: o relaxamento, a postura, o aquecimento vocal e corporal, a respiraçao, a articulaçao, a projecçao vocal e as ressonancias.

ANA ESTER NEVES | Reconhecida intérprete, tanto em papéis operáticos como em música de câmara, afirma-se no panorama musical português pela sua qualidade e versatilidade vocais que lhe permitem abraçar projectos muito contrastantes. Diplomou-se pelo Conservatório Nacional de Lisboa, prosseguiu os seus estudos na Royal Academy Of Music em Londres e na Universidade de Boston, onde concluiu o Mestrado em Interpretação. Estreou a ópera The Bacchae de Theodore Antoniou. Tem exercido uma actividade intensa em Portugal, Inglaterra, Áustria, Alemanha, Itália, Grécia, ETC, onde se apresentou nas óperas: Carmen, As Bodas de Fígaro, La Bohéme, D.Giovanni, entre outras. O ano de 2007 ilustra bem essa versatilidade : Cio-Cio San em Madame Butterfly e Violetta em La Traviata, Requiem de Verdi, El Sombrero de Três Bicos de Falla e também Mrs. Lovett em Sweeney Todd de Stephen Sondheim , que lhe valeu a nomeação para os Globos de Ouro na categoria de melhor Actriz e o Prémio Bernardo Santareno de Melhor Interpretação. Em 2008 estreou o papel principal da ópera Tosca de Puccini que voltou a repetir este ano no Festival de Sintra em Queluz. Vencedora dos concursos Mary Garden e Luísa Todi, é detentora dos prémios operáticos Gilbert Betjemann e Ricordi. Gravou a Sinfonia nº6 de Joly Braga Santos para a Marco Pólo e Os Dias Levantados de António Pinho Vargas para a EMI-Classics. Gravou também para a RTP, RDP e BBC. Foi profª Assistente na Universidade de Boston e leccionou na Universidade de Évora. É convidada frequentemente para leccionar Masterclasses em Portugal e no estrangeiro. Tem realizado várias Acções de Formação sobre Técnica Vocal para Professores e para locutores e jornalistas da Rádio e Televisão. Tem a seu cargo a Licenciatura e futuramente o Mestrado em Canto na Escola Superior de Artes do Instituto Politécnico de Castelo Branco.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Justiça Restaurativa



Um exemplo criativo nos E.U.A.


As Implicações Positivas da
Justiça Restaurativa na Sociedade Civil (*)


Joana Mealha dos Santos
Licenciada pela Faculdade de Psicologia
e Ciências da Educação
da Universidade de Lisboa

Luís Miguel Neto
Professor auxiliar da Faculdade de Psicologia
e Ciências da Educação
da Universidade de Lisboa

Resumo
Um sistema de justiça penal que simplesmente pune os “transgressores” e desconsidera as “vítimas” não leva em consideração as necessidades emocionais e sociais daqueles que são afectados por um crime. Num mundo onde as pessoas se sentem cada vez mais alienadas, a Justiça Restaurativa, com raízes na Antiguidade e renovada através do pensamento pós-moderno, procura fortificar sentimentos e construir relacionamentos positivos. O sistema de Justiça Restaurativa tem como objectivo não apenas reduzir a criminalidade, mas também diminuir o impacto dos crimes sobre os cidadãos. A capacidade da Justiça Restaurativa de preencher essas necessidades emocionais e de relacionamento é o ponto-chave para a obtenção e manutenção de uma sociedade civil saudável e moralmente mais desenvolvida.

Palavras-chave: Desenvolvimento Moral, Julgados de Paz, Justiça Comunitária, Justiça Penal, Justiça Restaurativa, Pós-modernismo, Mediação Penal, Reintegração

*artigo redigido em Julho de 2007 sob a orientação do Professor Doutor Luís Miguel Neto, no âmbito do estágio curricular da Licenciatura em Psicologia, variante de Psicologia Clínica Cognitivo- -Comportamental, Cognitiva e Sistémica.

As Origens
O conceito de Justiça Restaurativa é um ideal antigo no mundo e apreciado por várias comunidades. Este enquadramento filosófico deriva de numerosas fontes que incluem os escritos judaíco-cristãos e o seu conceito de “paz”, assim como práticas nativas e o símbolo do “círculo” representando a comunidade, o todo e as conexões intactas. São conceitos e práticas que parecem não ter uma origem definida, e que por surgirem e ressurgirem em diversas épocas e em diversas formas, mostram ter uma função vital nas comunidades humanas.

No entanto, as raízes do movimento de Justiça Restaurativa moderna encontram--se na cidade de Kitchener, na província de Ontario, no Canadá. Em 1974, um técnico de reinserção social, associado ao grupo cristão devotado à não-violência denominado Mennonite, e um director voluntário do serviço, organizaram um grupo de discussão com o propósito de desenvolverem um sistema de justiça criminal mais humano e mais eficiente. O conceito de Justiça Restaurativa e os seus princípios básicos evoluíram continuamente desde as discussões iniciais há cerca de vinte e três anos. (Wilkinson, 1997).

A prática de Justiça Restaurativa pode ser conceptualizada como vinda de longe ou de perto, no sentido temporal. Podemos encontrar os princípios desta plasmados em códigos com milhares de anos, tais como: o Pentateu (Israel), que especifica a reparação para os crimes contra a propriedade; o Código de Ur-Nammu (2060 A.C., Suméria) que exige a reparação para crimes de violência; o Código de Hammurabi (1700 A.C., Babilónia), que prescreve como sanção a reparação para crimes contra a propriedade; a Lei das Doze Tábuas (449 A.C., Roma), que impõe que os ladrões paguem o dobro do valor dos bens roubados; as leis tribais promulgadas pelo Rei Clovis (494, Alemanha), que apelavam à reparação como sanção quer para crimes violentos como não violentos; etc. (Wilkinson, 1997).

Se bem que possamos encontrar formas de reparação do dano e mecanismos de conciliação em institutos penais com centenas de anos, uma fonte de inspiração próxima da Justiça Restaurativa pode encontrar-se sobretudo no pensamento dos criminólogos e
críticos e na sua crítica e rejeição do sistema penal enquanto modelo de solução de conflitos (Santos, 2006). Complementando esta ideia, já Julio Maier (2001, cit. por Santos, 2006) nos diz que “o Direito penal e tudo o que ele representa, ou em que está representado (Estado, pena estatal, prossecução pública), é um produto contingente da política ou da cultura humana, dependente de uma forma particular de organização social”, concluindo que “pensar deste modo o Direito penal ajuda a convencermo-nos e a convencer os outros de que existem outras soluções para os casos penais, talvez mais racionais para os mesmos e seguramente menos cruéis do que a pena estatal (sobretudo do que penas que foram e são paradigmáticas para ele: a morte ou a pena corporal antes, a privação da liberdade hoje)”.

A Justiça Restaurativa pode também ser conceptualizada como nascida nos anos 70 como uma nova maneira de abordar a justiça penal, que se centra na reparação dos danos causados às pessoas e relacionamentos, ao invés de punir os transgressores, através da mediação entre vítimas e transgressores; sendo que nos anos 90 foi ampliada para incluir comunidades de assistência, com as famílias e amigos das vítimas e transgressores participando de processos colaborativos denominados “conferências” e “círculos”, que nos ligam ao significado do ‘círculo nativo’ mencionado acima. Tendo em mente a ideia do círculo é fácil prever que os dois grandes temas que permeiam a Justiça Restaurativa são a responsabilidade individual e o papel da comunidade.

Os Pressupostos

Wilkinson (1997) prefere o termo “Justiça Comunitária” ao de “Justiça Restaurativa” para designar este tipo de justiça, porque a maioria das pessoas tem alguma noção do que significa comunidade e como esta se relaciona com o processo de justiça – trabalho comunitário e tribunais comunitários, entre outros. No entanto, outros autores distinguem os dois tipos de justiça dizendo que são distintas mas possuindo semelhanças, como se fossem primos em 1º grau (Riddell, 2007). No geral, a lei é personalizada através de uma nova perspectiva: o crime afecta todos – a “vítima”, o autor do mesmo e a comunidade – todos sofrem e devem ser ajudados a suprir as suas necessidades e a voltar ao seu equilíbrio (Wright, 2003).

No entanto, alguns conteúdos, dos quais o movimento restaurativo deriva, têm a sua origem na atenção inédita que a cultura contemporânea tem dado à vitimização, e
especialmente no que diz respeito ao crime (Braithwaite, 2002, p. 47, cit. por Skotnicki, 2006). Aqui observa-se a influência do pensamento pós-moderno e de uma certa filosofia neo-liberal. Richard Rorty (1989, pp. xvi, 198, cit. por Skotnicki, 2006), por exemplo, argumenta que a questão ética central do nosso tempo é sabermos se estamos a sofrer. Este tipo de pensador diz-nos, em essência, que a vitimização, crueldade não provocada dirigida a outros, é o assunto à volta do qual nos podemos reunir num mundo, de outra forma, moralmente dividido.
Numa linha de pensamento semelhante, John Braithwaite (2002, p. 158, cit. por Skotnicki, 2006) argumenta que a liberdade humana só pode ser assegurada num contexto de não-dominação, diz-nos neste sentido que “o processo restaurativo coloca o problema no centro do círculo e não a pessoa”. Como nos diz Carlota de Almeida (2005) “o crime é (também) um acto entre dois sujeitos, e ambos necessitam de encontrar os meios com que superar a crise”.

Assim, a Justiça Restaurativa opta por uma abordagem da justiça mais contextual em detrimento de uma justiça consistente. Os participantes envolvidos no intercâmbio restaurativo determinam um acordo que é construído “somente” para aquelas circunstâncias. George Pavlich (2002, p. 3, cit. por Skotnicki, 2006) escreve: “Os resultados, situacionais que possam ser, são uma série de complexas implicações e negociações explícitas que produzem sujeitos éticos específicos. Não existem vítimas absolutas, transgressores, etc. ... Em vez disso, os sujeitos tornam-se presentes no instante do encontro”. Jean-Francois Lyotard (1985, p. 27, cit. por Skotnicki, 2006) diz--nos ainda: “Nós estamos em dialéctica, e nunca estamos no epistéme” (no total conhecimento). Dada a singularidade do encontro específico, que se origina no facto de nós construirmos o mundo mais em termos de opinião do que em termos de verdade, as decisões são tomadas ‘caso a caso’”.

Finalmente, em relação ao que diz respeito ao pensamento pós-moderno que, actualmente, dá vida à Justiça Restaurativa, verifica-se que a servir de base ao pressuposto contextual existe a crença de que a justiça, num sentido formal abstracto, não existe. Assim, qualquer tentativa de fixar uma definição comum no idioma da meta-linguagem, seguindo o vislumbre de Foucault (1979, pp. 301-308, cit. por Skotnicki, 2006) e de muitos pós-modernistas, torna-se um exercício de poder em vez de consenso. Braithwaite (2002, pp. 156-57, cit. por Skotnicki, 2006) sugere que o autor do crime deve aprender a resignificar a sua vida em consciente repúdio pelo dano que causou. Para tal, a pessoa fará uma “rebiografia” na qual os elementos “negativos” serão tornados irrelevantes como “acidentais”, ajudando-a a acreditar que a acção criminosa passada “não era o próprio (eu)” num sentido verdadeiro e determinante. Esta “narração restaurativa” tem o objectivo de sugerir que o “self que diz a verdade, ou confessa o erro da transgressão é o self que ‘(eu) era o tempo todo’”. Deste modo, o movimento restaurativo defende que o encontro com a vítima pode trazer “à tona” do autor do crime valores manifestos em comportamentos que estavam dormentes e que, no momento, podem ser reactivados como resultado de ter sido ouvido, justamente punido e, em muitas circunstâncias perdoado.

Como se pode depreender, o processo da Justiça Restaurativa não termina quando é cumprida a pena, pelo contrário, é precisamente nessa altura que a comunidade tem um interesse aumentado em ajudar a pessoa a ser integrada positivamente na sociedade. A comunidade oferece os meios e as oportunidades de restaurar quem assim cometeu um crime em determinado momento da vida, percepcionando esse indivíduo como um membro responsável, produtivo e que cumpre a lei em sociedade. A comunidade tem um papel na manutenção da responsabilidade da pessoa que é reintegrada depois de ter actuado criminosamente, oferecendo maneiras para que a reparação seja efectuada e para que todos os intervenientes possam voltar a um novo equilíbrio. A transição do indivíduo é o momento adequado para a resolução do problema nos seus vários níveis: idealmente modela uma aproximação construtiva, de procura de soluções, para os desafios e dificuldades da vida.

Esta nova perspectiva de resolução de conflitos, e o consequente fortalecimento dos afectados por uma transgressão, parecem ter o potencial de aumentar a coesão social nas nossas sociedades, cada vez mais distantes umas das outras. A Justiça Restaurativa e as suas práticas emergentes constituem uma nova e promissora área de estudo das Ciências Sociais, sendo que o pressuposto fundamental da Justiça Restaurativa é que o crime causa danos às pessoas e relacionamentos e que a justiça exige que o dano seja reduzido ao mínimo possível (Mccold & Wachtel, 2003).

Definições e Metodologias
De acordo com Wilkinson (1997), Mark Carey construiu a melhor definição de Justiça Restaurativa: “é um enquadramento filosófico para dar resposta ao crime e às acções consideradas necessárias para emendar este dano. Focaliza-se no crime como um acto contra outro indivíduo ou comunidade, em vez de como um crime contra o Estado. É um modelo focado no futuro que enfatiza a resolução do problema”. Outra definição possível, que também esclarece sobre a sua prática, é a de que a Justiça Restaurativa é um "processo colaborativo que envolve aqueles afectados mais directamente por um crime, chamados de ‘partes interessadas principais’, para determinar qual a melhor forma de reparar o dano causado pela transgressão" (Mccold & Wachtel, 2003).

As partes interessadas principais compõem-se das vítimas e dos transgressores, e aqueles que têm uma relação emocional significativa com uma vítima ou transgressor, como os pais, esposo(a), irmãos, amigos, professores ou colegas, também considerados directamente afectados. Estes constituem as comunidades de assistência a vítimas e transgressores. As partes secundárias, por outro lado, são integradas pela sociedade, representada pelo Estado, pelos vizinhos, assim como, aqueles que pertencem a organizações religiosas, educacionais, sociais ou empresas cujas áreas de responsabilidade incluem os lugares ou as pessoas afectadas pela transgressão. O dano sofrido por essas pessoas é indirecto e impessoal, e a atitude que deles se espera é a de "apoiar os processos restaurativos como um todo" (Mccold & Wachtel, 2003).

No processo de conciliação, promovido por meio de debates ou mesas-redondas, todas as partes interessadas principais "precisam de uma oportunidade para expressar os seus sentimentos e ter uma voz activa no processo de reparação do dano". Por um lado, as vítimas são prejudicadas pela falta de controle que sentem em consequência da transgressão e precisam de readquirir o seu sentimento de poder pessoal, sendo esse fortalecimento o que permite transformar as vítimas em sobreviventes; os transgressores, por outro lado, prejudicam o seu relacionamento com as suas comunidades de assistência ao trair a confiança das mesmas e para recriar essa confiança eles devem ser fortalecidos para poderem assumir responsabilidade pelas suas acções. Assim, as suas comunidades de assistência preenchem necessidades dos transgressores garantindo que algo será feito sobre o incidente, que tomarão conhecimento do acto incorrecto, que serão tomadas medidas para impedir novas
transgressões e que vítimas e transgressores serão reintegrados às suas comunidades (Mccold & Wachtel, 2003).

Um aspecto importante em relação às partes interessadas secundárias, que não estão ligadas emocionalmente às vítimas e transgressores, é que estas não devem tomar para si o conflito daqueles a quem pertence, interferindo na oportunidade de reconciliação e reparação. Em vez disso, a resposta restaurativa máxima para as partes interessadas secundárias deve ser a de apoiar e facilitar os processos em que as próprias partes interessadas principais determinam o que deve ser feito. Estes processos reintegrarão vítimas e transgressores, fortalecendo a comunidade, aumentando a coesão e fortalecendo e ampliando a capacidade dos cidadãos de solucionar os seus próprios problemas (Mccold & Wachtel, 2003).

O último elemento estrutural da Justiça Restaurativa, de três – A Janela de Disciplina Social (Wachtel 1997, 2000; Wachtel & McCold 2000), O Papel das Partes Interessadas (McCold 1996, 2000) e A Tipologia das Práticas Restaurativas (McCold 2000; McCold & Wachtel, 2002) – segundo Mccold e Wachtel (2003), compreende a discriminação do tipo de práticas restaurativas designadas pelos autores. Deste modo, todas as partes interessadas, directas e indirectas, desde que haja consenso, são chamadas a procurar, em conjunto, uma solução efectiva para o conflito, de modo a preencher as necessidades emocionais de todos. Assim, A Janela de Disciplina Social explica como o conflito pode ser transformado em cooperação. Os Papéis das Partes Interessadas mostram que para reparar os danos dos sentimentos e relações tal requer o fortalecimento das partes interessadas principais, afectadas de forma mais directa. A Tipologia das Práticas Restaurativas explica porque é a participação da vítima, do transgressor e das comunidades necessária à reparação do dano causado pelo crime.
Contudo, se a legislação de um determinado país estipular que participará apenas um dos grupos de partes interessadas principais, por exemplo, as vítimas, supondo que o Estado as beneficia com uma compensação financeira, o processo é somente "parcialmente restaurativo". Se, por outro lado, a vítima e o transgressor participam de um processo de mediação, sem as comunidades, o processo passa a ser "na maior parte restaurativo". Mas para que se dê a plena realização do conceito de Justiça Restaurativa, é fundamental que os três grupos participem activamente no processo em "conferências ou círculos" (Mccold e Wachtel, 2003).


Fig. 1 Tipologia das Práticas Restaurativas
(McCold 2000; McCold & Wachtel, 2002; cit. por Mccold & Wachtel, 2003)


Assim, fazer justiça do ponto de vista restaurativo, significa dar resposta sistemática às infracções e às suas consequências, enfatizando a cura das feridas sofridas pela sensibilidade, pela dignidade ou reputação, destacando a dor, a mágoa, o dano, a ofensa, o agravo causados pelo incidente, contando para isso com a participação de todos os envolvidos (“vítima”, “infractor”, comunidade) na resolução dos problemas que se manifestam em conflitos (Neto, 2007).
A Justiça Restaurativa não é feita porque é merecida mas sim porque é necessária.

A Investigação
No séc. XX a Justiça Restaurativa começou a tornar-se mais difundida. Comunidades nos Estados Unidos, Grã-Bretanha, e Austrália instituíram os primeiros programas, pela mão do criminologista Lawrence Sherman e da sua co-autora Heather Strang (Gladwell,
2006). Apesar de alguns programas-piloto apresentarem resultados promissores junto dos adultos, a maioria dos programas de Justiça Restaurativa centrou-se nos jovens.
Já a 8 de Fevereiro de 2007, diz-nos a jornalista Mary Riddell (2007), os mesmos autores publicaram um relatório que sugere uma revolução na lei e ordem do pensamento no Reino Unido com a Justiça Restaurativa no seu centro. Estes investigaram esta prática e encontraram evidências, pela primeira vez, de que este tipo de justiça está a resultar no mundo: de acordo com a investigação de Sherman e Strang na Austrália, nos Estados Unidos da América e na Grã-Bretanha, a Justiça Restaurativa provou reduzir a metade a repetição da transgressão, o que reduz igualmente o stress pós-traumático nas vítimas. Eram o dobro (anteriormente), ou mais do dobro, os transgressores trazidos para o seio da justiça, por meios convencionais.
Paradoxalmente, a Justiça Restaurativa parece funcionar melhor para tipos de crimes mais graves, como roubos, e não tanto para pequenos furtos, como aqueles que se realizam em lojas. A justificação para esta evidência é a de que quanto mais grave o crime mais o autor deste tem a possibilidade de sentir as consequências do seu acto, pois os sentimentos de todos os envolvidos são mais intensos. Os investigadores (Lawrence & Strang, 2007, cit. por Riddell, 2007) pensam que transgressores violentos podem ser persuadidos a mudar a sua forma de proceder depois de compreenderem quanta dor causaram às suas vítimas, que são normalmente pessoas semelhantes a eles próprios. Nessas situações mostra-se mais possível o remorso, as explicações e o pedido de desculpas por parte daquele que transgrediu. Neste sentido Sherman (2007, cit. por Riddell, 2007) diz que a “principal questão é o que funciona – e não o que os malandros merecem. Ao darmos liberdade ao nosso temperamento, só tornamos as coisas piores”.

Os investigadores (Lawrence & Strang, 2007, cit. por Riddell, 2007) tornaram os estudos aleatórios, os quais produziram resultados importantes, principalmente entre as adolescentes da Northumbria que tinham problemas com a polícia. Metade destas tomaram parte de uma conferência de Justiça Restaurativa e a outra metade entrou no sistema de justiça criminal. O 1º grupo ficou livre de problemas. A julgar pelos resultados, a Justiça Restaurativa preveniu 71 crimes por 100 transgressores.
Mary Riddell (2007) relata, ainda, que ela mesma teve a oportunidade de presenciar uma intervenção de Justiça Restaurativa, neste caso uma conferência. Este evento teve lugar na Prisão de Pentonville e os envolvidos eram um toxicodependente,
que entrou em propriedade privada, e a sua vítima, uma turca viúva e idosa. Maria não se atrevia a deixar a sala-de-estar, onde dormia num sofá com uma faca ao seu lado e os seus filhos viram-se obrigados a sacrificar a sua independência e voltar para casa para tomarem conta da sua mãe. Alexi, que tinha entrado na cozinha de outrém em busca de dinheiro para uma dose, havia arruinado a existência de uma família. Ele prometeu “endireitar-se” e eventualmente cumpriu a promessa. A sua vítima, enfrentando um ser humano necessitado em vez do monstro da sua imaginação, obteve a sua vida de volta.
Contudo, Lawrence & Strang (2007, cit. por Riddell, 2007) concordam que existem ainda muitos mistérios acerca de como a Justiça Restaurativa funciona (ou falha), e quando, e com quem... Os autores concebem que ainda existe muito trabalho a realizar. O seu relatório chama a esta prática “uma poderosa droga que necessita de ser cuidadosamente testada para diferentes tipos de casos antes de ser tornada uma prática generalizada”, isto porque o que funciona, por exemplo, em pequena escala pode, na sua opinião, não ser replicado em grande escala.

Em Portugal
Tal como nos diz Cláudia Santos (2006), em Portugal, “a mediação penal é por muitos considerada o principal instrumento da Justiça Restaurativa que, por sua vez, é também por muitos apontada como uma verdadeira alternativa ao sistema penal”.
Contudo, até final do ano 2000, apesar de já existir no âmbito da justiça penal de menores uma prática semelhante à da Justiça Restaurativa, o sistema de justiça de menores português tinha um carácter eminentemente proteccionista, proporcionando uma intervenção indiferenciada face às problemáticas apresentadas por estes, podendo ser aplicadas as mesmas medidas a menores em situação de perigo e a menores agentes de práticas ilícitas. Com a publicação da Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo e da Lei Tutelar Educativa e com a sua entrada em vigor em 1 de Janeiro de 2001, esta situação modificou-se (Albino, 2003) abrindo também caminho para a mediação penal de adultos, que actualmente se tem desenvolvido através das actividades dos chamados “Julgados de Paz”. Mas foi com a Decisão-Quadro 2001/220/JAI do Conselho, de 15 de Março de 2001, que a Justiça Restaurativa em Portugal começou a expandir a sua actuação. Esta Decisão-Quadro “relativamente ao estatuto de vítima em processo penal, consagra no seu artigo 10.º a exigência de que os Estados-Membros
promovam, até 22 de Março de 2006, a mediação nos processos penais relativos a infracções que consideram adequadas, devendo os acordos resultantes da mediação poder ser tidos em conta nesses processos” (Santos, 2006).

Deste modo, existe hoje a possibilidade da população recorrer a serviços de mediação penal, e outros tipos de mediação (laboral, escolar, familiar, etc.) numa área cada vez maior do território nacional. Existindo, ainda, em Portugal programas de investigação em Justiça Restaurativa, como o Programa de Investigação-Acção dirigido pelo Professor Cândido da Agra com o nome de “Justiça Restaurativa e Mediação”, desenvolvida na Escola de Criminologia da Faculdade de Direito do Porto, com um objectivo não só de simples prestação de um serviço mas como uma actividade inscrita no quadro de um projecto de investigação científica nos domínios jurídico e criminológico (Morais, 2006).

Tal foi possível pois, desde a década de 60 do século passado, se vêm adensando as críticas ao sistema penal, e nos anos 80, com o impacto do pensamento vitimológico, surge com crescente vigor a ideia de que tal sistema não dá resposta a uma necessidade essencial e de reparação, no sentido lato, dos danos sofridos pelas “vítimas” das infracções criminais (Santos, 2006). Este conceito de mediação penal tem vindo a progredir e tem-se tornado progressivamente mais abrangente, tendo como objectivos os da reinserção e da reabilitação, apelando a uma justiça penal com resultados mais construtivos e menos repressivos.

Evolução no Mundo
A Justiça Restaurativa tem vindo a desenvolver-se em diversas zonas do globo: em Inglaterra foi criado em 1984, o Mediation U. K., inspirado nas experiências de mediação efectuadas nos Estados Unidos da América, Canadá e Austrália desde os anos 70; em França surgiu o Instituto para Ajuda às Vítimas e Mediação com o objectivo de criar as estruturas necessárias à implementação do sistema e a Lei de 4 de Janeiro de 1993 consagrou a mediação como uma resposta judicial à pequena delinquência, consolidando um regime que funciona a título experimental desde 1991; na Bélgica, nesse mesmo ano, é feita uma experiência em Gand que se revelou extremamente positiva e que conduziu à implementação da mediação em todo o território, através de uma lei de 10 de Fevereiro de 1994; finalmente, só para mencionar alguns exemplos, em 11
Espanha, desde 1985, a Ley Orgânica del Poder Judicial criou um corpo de juízes de paz leigos, não profissionais, assim introduzindo um poderoso vector de desjuridicialização e, nomeadamente, na Catalunha, desde 1998, funciona uma experiência de mediação no âmbito da justiça penal de adultos, visto a mediação no âmbito da justiça penal de menores remontar a 1990 (Almeida, 2005).
A Justiça Restaurativa envolve profissionais de várias áreas, e de acordo com os diversos países existem diferentes tipos de pessoas a exercer actividade nesse sentido. Por exemplo, no Reino Unido são maioritariamente os polícias que praticam Justiça Restaurativa (Riddell, 2007), enquanto que em Portugal têm vindo a ser os profissionais do Direito e das Ciências Sociais.

Todavia, o reconhecimento dos limites do sistema penal, em todos estes países e pelas suas comunidades, não significa qualquer afirmação da sua dispensabilidade. Pelo contrário, significa unicamente o reconhecimento de que o sistema social é multidimensional e os conflitos interpessoais podem e devem ser objecto de intervenções diversificadas. O sistema penal e as práticas restaurativas são sistemas necessários com finalidades diferentes. Assim, “se a prática de um crime pode impor a intervenção da justiça penal para, sancionando o seu agente, se atingirem finalidades de prevenção especial e geral, devemos admitir que o conflito interpessoal que o crime também é pode justificar uma intervenção outra, em alternativa ou cumulativamente com a intervenção penal, vocacionada em outros moldes para a pacificação dos intervenientes e da comunidade, para a reparação dos males causados, para a reconciliação de cada sujeito com os outros ou de cada sujeito consigo próprio. Esta intervenção outra será sempre complementar da intervenção penal, ainda que casuisticamente possa tornar esta última desnecessária. Ou talvez se possa dizer que, pelo menos relativamente a alguma criminalidade, passará a ser subsidiária” (Santos, 2006). Como refere Braithwaite (2002, p. 34, cit. por Santos, 2006) “muito poucos agentes criminais que participam em procedimentos de Justiça Restaurativa permaneceriam na sala sem uma certa margem de coerção. Sem a sua descoberta ou detenção, sem o espectro da alternativa que é o tribunal criminal, eles simplesmente não participariam do processo”. O mesmo autor (2002, p. 3, cit. por Skotnicki, 2006) acrescenta “que o crime é muito mais do que uma violação; é um convite para construir uma comunidade mais afectuosa”.

Anabela Rodrigues (2006) alerta, contudo, para o cuidado que se deve ter na implementação da Justiça Restaurativa pois, segundo a autora, o que impera ainda é uma filosofia de “reconciliação” mais do que de “reparação”, ou seja, uma “engenharia de mediação” subordinada a uma lógica instrumental e dirigida à obtenção rápida do acordo, sendo isto mais evidente quando a mediação passa a ser vista como uma alternativa ao arquivamento. Para que tal não aconteça é essencial que se tenha como objectivo claro a reabilitação que passa pela responsabilização dos indivíduos, e não por técnicas de mediação que visam reparações obtidas mecanicamente e frequentemente económicas.

Desenvolvimento Moral
Charles Tilly (2006, capítulo 1) explicando a maneira como as pessoas reivindicam, estabelecem, negoceiam, reparam, reorganizam, trabalham ou terminam as relações com os outros, mostra-nos que o acto de fala “dar razões” é uma actividade social e que, por isso, as razões válidas variam de uma situação social para outra, possuindo diversas funções, entre elas, de justificação, racionalização ou reparação. Deste modo, essas palavras descrevem efectivamente situações e não estados internos e têm como meta- -função conectar as pessoas. No entanto, do ponto de vista de um observador, por vezes, as razões dadas por um determinado indivíduo aparentam superficialidade, contradição ou desonestidade, o que permite concluir que o ser humano não dá razões, a si e aos outros, devido a uma necessidade de coerência ou de verdade. Claramente, as pessoas ao darem razões estão a negociar as suas vidas sociais, isto é, estão a dizer algo sobre a relação que têm consigo e com aqueles que os escutam, permitindo esse processo que se inicia com o acto de fala de “dar razões”: determinar um sentido ao que sucede (nos aspectos globais e particulares), colocar razões em contexto, determinar graus de responsabilidade e culpa e elaborar as histórias das pessoas envolvidas num acontecimento.

Assim, para que uma intervenção de Justiça Restaurativa possa promover o desenvolvimento moral e consequentemente o ajustamento social é essencial que o autor do crime possa “dar razões” e escutar outras razões. Tomando como exemplo crimes sem danos físicos – como a fraude, o roubo ou mesmo a violação sexual – pode ser muito importante para uma pessoa que tenha praticado um acto destes, e não
compreenda como prejuízo algo que não tenha originado dano físico concreto, ouvir sobre os prejuízos psicológicos resultantes deste tipo de actos de modo a poder reavaliar as suas noções (Tangney & Dearing, 2002, p. 192).

Por outro lado, visto que questões de responsabilidade estão presentes nos crimes é inevitável que sentimentos morais como a culpa e a vergonha surjam, sendo muito importante que o indivíduo em sofrimento possa aprender a fazer uma distinção entre eles, pois existem melhores e piores formas deste se “sentir mal” em resposta às transgressões que fez na vida, ou mesmo aos inevitáveis insucessos da existência (Tangney & Dearing, 2002, p. 194). A Justiça Restaurativa é em si uma intervenção indutora de culpa mas redutora de vergonha, visto a culpa ser dirigida a comportamentos específicos e permitir uma mudança de comportamento positiva, assim como a actos de reparação e empatia em relação aos outros; enquanto que a vergonha sendo dirigida ao self levar a uma inacção ou maior agressividade, por ser um sentimento desintegrador e, por isso, difícil de experimentar. Como as sentenças no espírito da Justiça Restaurativa (p.e. serviço comunitário) estão mais aptas a gerar sentimentos de culpa em relação à transgressão e às suas consequências, em vez de sentimentos de vergonha e humilhação acerca do self, estas são medidas que acrescentam algo à sociedade em vez de retirarem (p.e. os custos do encarceramento) algo da sociedade (Tangney & Dearing, 2002, pp. 192-193).

Braithwaite (1989, p. 146, cit. Por Tangney & Dearing, 2002, p. 194) foi um pioneiro neste tipo de trabalho com sentimentos morais com o seu conceito de “vergonha reintegrativa”, todavia este conceito mostra em tudo corresponder ao de culpa, pois identifica o crime (comportamento), e não o indivíduo, como irresponsável, errado ou mau, pois “o self (...) é tido como sagrado em vez de profano”.

Finalmente, por se saber que 90% das pessoas com sentença de prisão sentem a sua sentença como injusta (Indermaur, 1994, cit por Tangney & Dearing, 2002, p. 193), e que muitos aspectos da experiência de encarceramento podem provocar sentimentos de vergonha e humilhação, que, se sentida como injusta, podem levar, paradoxalmente, a um aumento do comportamento criminal (Sherman, 1993, cit. por Tangney & Dearing, 2002, p. 193), é urgente uma reflexão e avaliação cuidadas do ambiente das prisões e das suas políticas de funcionamento, para que mesmo “por detrás das barras” se possa restaurar, reduzindo o sentimento de vergonha, e permitir uma vivência de
valores de responsabilidade e de comunidade para a obtenção e manutenção de uma sociedade civil saudável e moralmente mais desenvolvida.

Referências bibliográficas:
Albino, M. (2003). Primeiros passos em Portugal. Seminário Internacional Projecto Dikê: protecção e promoção dos direitos das vítimas de crimes na Europa, 61-66. Editado por A.P.A.V. – Associação de Apoio à Vítima.
Almeida, C. (2005). A propósito da decisão-quadro do conselho de 15 de Março de 2001: Algumas considerações (e interrogações) sobre a mediação penal. Revista Portuguesa de Ciência Criminal, 15, 391-414. Coimbra: Coimbra Editora.
Castro, J. (2006). O processo de mediação em matéria penal: Elementos de reflexão a partir de investigação-acção da Escola de Criminologia da Faculdade de Direito do Porto. Revista do M.º P.º n.º 105., 145-154.
Charles T. (2006). Why? NJ: Princeton University Press.
Gladwell, M. (2006). Here’s why. In New Yorker, April 10, 80-82.
Mccold, P. & Wachtel, T.(2003). Em busca de um paradigma: Uma teoria de justiça restaurativa. Restorative Practices E-forum. Consultado a 16 de Abril, 2007. Em http://fp.enter.net/restorativepractices/paradigm_port.pdf.
Neto, P. (2007). Fazer Justiça Restaurativa – padrões e práticas. Consultado a 10 de Maio, 2007. Em http://jij.tj.rs.gov.br/jij_site/docs/JUST_RESTAUR/ARTIGO+-+JR+-+PADR%D5ES.HTM
Riddell, M. (2007). The guilt trip. New Statesman, February 12, 28-30.
Rodrigues, A. (2006). A propósito da introdução do regime de mediação no processo penal. Revista do M.º P.º n.º 105, 129-133.
Santos, C. (2006). A mediação penal, a justiça restaurativa e o sistema criminal – algumas reflexões suscitadas pelo anteprojecto que introduz a mediação penal “de adultos” em Portugal. Revista Portuguesa de Ciência Criminal, 16., 85-133. Coimbra: Coimbra Editora.
Skotnicki, A. (2006). How Is Justice Restored? Studies in Christian Ethics 19.2, 187-204. Londres, Thousand Oaks, CA e Nova Deli: S.A.G.E. Publications.
Tangney, J.; Dearing, R. (2002). Shame and Guilt. NY: Guilford Press.
Wilkinson, R. (1997). A shifting paradigm: modern restorative justice principles have roots in ancient cultures. Corrections Today, 59, 1. Alexandria,VA: American Correctional Association.
Wright, M. (2003). Justiça Restaurativa como Justiça baseada na Comunidade. Seminário Internacional Projecto Dikê: protecção e promoção dos direitos das vítimas de crimes na Europa, 85-94. Editado por A.P.A.V. – Associação de Apoio à Vítima.

domingo, agosto 30, 2009

Sobre Rodas em Oeiras no MITO

produzido por VoArte




Em Santiago de Compostela:



No Porto com os saxofonistas dos Vento do Norte:



SOBRE RODAS é um espectáculo que integra pessoas portadoras de deficiência (Paralisia Cerebral), técnicos e artistas das artes performativas. Uma performance que nos leva a questionar os limites do nosso corpo, assim como a magia da conquista de novos espaços e sentimentos, dentro e fora do nosso corpo.

SOBRE RODAS nasce de uma primeira experiência e de uma parceria entre a Associação Vo’Arte, a Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa (APCL) e o Centro de Reabilitação de Paralisia Cerebral Calouste Gulbenkian – ISS, para a participação num projecto de Moda Adaptada / Dança que se realizou em França – Tours, no âmbito do ano Europeu para Inclusão e no 2º Fórum Europeu de Jovens Criadores de Moda Adaptada.

Uma pequena troupe deslizando, misteriosamente, vinda não se sabe de onde, abre um caminho e apresenta-nos uma deliciosa história percorrida pelas mais curiosas personagens que promovem o encontro entre um homem e uma mulher.

Num estado circulatório falam-nos de momentos do passado e do futuro. Rodam e dançam com a poesia de quem diz que o limite de alguns é o infinito de outros.

Tudo sobre rodas, um processo de deslize e circulação.

Caberá numa roda o mundo inteiro?

www.voarte.com


E agora em Oeiras a partir de 4 de Setembro:

http://www.mito-oeiras.com/

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Também da Companhia Integrada Multidisciplinar - CIM,
o espectáculo de dança: O AQUI





Outras iniciativa semelhante no Porto (Casa da Música):
CORPO TODO

segunda-feira, agosto 24, 2009

Música contra a Exclusão: O Sistema de Orquestras Venezuelano!



in TERRITÓTIO DAS ARTES (2008)

As caras do sistema:

José Antonio Abreu (TED talks, 2009)




Dudamel (60 MINUTOS)





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Jose Antonio Abreu founded El Sistema ("the system") in 1975 to help poor Venezuelan kids learn to play a musical instrument and be part of an orchestra. 30 years on, El Sistema has seeded 102 youth orchestras -- and many happy lives.
Why you should listen to him:
The gulf between the rich and the poor in Venezuela is one of the worst in the world. Jose Antonio Abreu, an economist, musician, and reformer, founded El Sistema ("the system") in 1975 to help Venezuelan kids take part in classical music. After 30 years (and 10 political administrations), El Sistema is a nationwide organization of 102 youth orchestras, 55 children's orchestras, and 270 music centers -- and close to 250,000 young musicians.

El Sistema uses music education to help kids from impoverished circumstances achieve their full potential and learn values that favor their growth. The talented musicians have become a source of national pride. Several El Sistema students have gone on to major international careers, including Gustavo Dudamel, soon to be the music director of the Los Angeles Philharmonic, and the bassist Edicson Ruiz, who at 17 became the youngest musician ever to join the Berlin Philharmonic.

There is a simple concept behind Abreu's work: for him an orchestra is first and foremost about together ness, a place where children learn to listen to each other and to respect one another.
"Music has to be recognized as an ... agent of social development in the highest sense, because it transmits the highest values -- solidarity, harmony, mutual compassion. And it has the ability to unite an entire community and to express sublime feelings."
José Antonio Abreu




Site Oficial do Sistema:
http://www.fesnojiv.gob.ve/es.html

Página pessoal de Dudamel: http://www.gustavodudamel.com/artistmicrosite/DUDGU/es/sistema_story.htms

TRAILER DO DOCUMETÁRIO emitido ontem pela RTP2 depois do telejornal das 22h:

segunda-feira, agosto 03, 2009

domingo, agosto 02, 2009

Slow Food, Slow Europe



Deixando o "Do it Now" para traz...

quarta-feira, julho 22, 2009

Armas de Instrução em Massa

Viagem de um professor pelo mundo obscuro da escolaridade obrigatória





Em Weapons of Mass Instruction, John Taylor Gatto escreve sobre os mecanismos da escolaridade compulsória que destroem a imaginação, desencorajam o pensamento crítico e criam a falsa visão da aprendizagem como subproduto do treino da memorização.

Com o seu livro anterior, colocou a expressão "dumbing us down" - emburrecendo-nos cada vez mais - na boca de todo o mundo, tornando-a famosa. Weapons of Mass Instruction promete adicionar outra metáfora arrepiante aos argumentos contra a escolaridade.

O livro demonstra que o mal que a escola inflige é racional e deliberado, seguindo teorias propostas ao mais alto nível político por Platão, Calvin, Spinoza, Fichte, Darwin, Wundt e outros que alegam que o termo "educação" não faz sentido porque a humanidade é rigidamente limitada pelas necessidades da biologia, psicologia e teologia. A verdadeira função da pedagogia é a de tornar a população gerível.

Atingir esse objectivo exige que os jovens sejam condicionados a depender de profissionais e especialistas, condicionados a permanecerem separados das suas alianças naturais, condicionados a aceitar desconexões das experiências que levam à auto-suficiência e independência.

Escapar a esta armadilha exige uma forma diferente de crescer, que Gatto chama de "open source learning." Em capítulos como "Carta à minha neta Cristina", "Stanley, O Gordo" e "Um Passeio em Londres", esta alternativa é ilustrada.

John Taylor Gatto ensinou em escolas públicas durante 30 anos antes de deixar a profissão com uma carta aberta de demissão publicada no Wall Street Journal no ano em que foi nomeado "Professor do Ano" de Nova Iorque.

in Blog Aprender Sem Escola por Paula

terça-feira, julho 21, 2009

Não ao MEDO no Namoro



Campanha Oficial



Trabalho de estudantes

domingo, julho 12, 2009

quarta-feira, julho 08, 2009

sábado, julho 04, 2009

“SEM ESPAÇO – SEM ESCOLHA – SEM EMPREGO – SEM MARCA”

No Logo – Naomi Klein – Relógio D’Água





Poucos autores do activismo, à excepção talvez de Noam Chomsky, se mostram tão completos como a jornalista canadiana Naomi Klein. O seu livro de 2000, No Logo (Relógio D’Água) traça um retrato minucioso de como o grande capital está a tomar conta do espaço público e a restringir a Liberdade de Expressão dos cidadãos. Com efeito, se antes nos podíamos manifestar num mercado público, hoje, esse direito constitucional não nos é permitido dentro de um centro comercial, ou às suas portas. Tente, para comprová-lo, protestar frente a um hipermercado contra quaisquer políticas laborais menos correctas seguidas por este, e cedo se verá rodeado de seguranças, e até polícias.

Klein analisa ainda a forma como é criada à nossa volta a ilusão de escolha. Isto é, o processo através do qual uma corporação ou sinergia cria marcas que muito embora aparentem ser concorrentes entre si pertencem aos mesmos donos. Ficamos a perceber também como uma t-shirt Nike, ou GAP, por ex., é fabricada na Indonésia ou nas Filipinas por 0,5 cêntimos e vendida no ocidente por dezenas e mesmo centenas de euros. Uma trabalhadora destas fábricas não recebe o suficiente para provir à sua subsistência, embora trabalhe longas horas extraordinárias sem quaisquer regalias sociais. Podemos dizer que isto se passa noutro mundo, que aqui, no ocidente, estamos a salvo. Mas como, se há fábricas a abandonarem o nosso país em busca desta mão-de-obra a preços de saldo, deixando atrás de si um lastro de desemprego e precariedade?

Escolas, universidades, consultórios médicos, hospitais, nada está para além da interferência do grande capital. Nas universidades, investigadores científicos são pagos para fazerem estudos que publicitem a “eficácia” de medicamentos que na verdade provocam doenças. Os que se opõe são trucidados por exércitos de advogados comerciais. Nas escolas do ensino básico, na América do Norte, as cantinas são patrocinadas pela McDonalds e outras empresas de fast-food, e os seus placards publicitários forram as paredes dos refeitórios, inoculando no aluno uma consciência de marca desde praticamente o berço. Não satisfeitos com tudo isto, os missionários neo-liberais conseguiram introduzir nas salas de aula uma rede de televisão, supostamente com fins educativos, que passa anúncios publicitários de 5 em 5 minutos.

Qualquer semelhança com Admirável Mundo Novo, de Huxley, ou 1984, de Orwell, é pura coincidência. Será? Qual é o futuro do espaço público, da Liberdade de Expressão e dos outros direitos que custaram ao mundo séculos de lutas e de sangue derramado a conquistar? Klein aponta o problema, disseca-o, mas não se fica por aí. Fala-nos também daquilo que poderemos fazer para o combater. Viajando por dezenas de países do mundo e falando com inúmeras pessoas, ela busca também o exemplo positivo, as expressões criativas dos seres humanos que se cansaram do velho sistema e, não esperando por qualquer governo ou messias, se empenharam a reformá-lo.

Luís Soares
http://escriativar.blogspot.com/
http://luisluzerna.blogspot.com/

quarta-feira, julho 01, 2009

Pina Bausch... um legado maravilhoso...



Edoardo Sanguinetti (sobre Pina):

"A minha impressão é que Pina Bausch inverteu a perspectiva habitual da nossa cultura, quer dizer a ideia de que haveria uma psique enterrada, dissimulada no nosso corpo, que este de tempos em tempos trairia precisamente no seu segredo; Bausch pensa que somos como que envolvidos por materiais verbais, categorias conceptuais que nos dissimulam" (p. 148)

in Fale-me de Amor


domingo, junho 28, 2009

O nosso Planeta, nossa Casa e os seus Filhos



Vejam também HOME: O Mundo é a nossa Casa

HOME, filme da autoria do realizador francês Yann Arthus-Bertrand, é constituído por paisagens aéreas do mundo inteiro e pretende sensibilizar a opinião pública mundial sobre a necessidade de alterar modos e hábitos de vida a fim de evitar uma catástrofe ecológica planetária.

Versão portuguesa:

http://www.youtube.com/watch?v=tCVqx2b-c7U

No original:

http://www.youtube.com/user/homeproject

sexta-feira, junho 26, 2009

Drogas Psiquiátricas

Um assalto à Condição Humana

Entrevista do The Street Spirit com Robert Whitaker

Entrevistado por Terry Messman

Tradução: José C B Peixoto

Movie Documentary: Big Bucks Big Pharma



Bob Whitaker é o autor do livro: Mad in America: Bad Science, Bad Medicine, and the Enduring Mistreatment of the Mentally Ill (Loucura na América: Ciência ruim, Medicina ruim, e os contínuos maus tratos ao doente mental).




O repórter investigativo Robert Whitaker, autor do impressionante livro MAD IN AMERICA, atualmente está engajado em uma fascinante linha de pesquisa: de que forma a gigantesca indústria de remédios psiquiátricos está colocando em risco a população americana ao encobrir os casos não relatados de sofrimento, angústia e enfermidade originados pelos medicamentos antidepressivos, amplamente prescritos, e os anti-psicóticos.



Whitaker expõe as massivas mentiras e encobrimentos que corromperam os processos de revisão de drogas que são realizados pelo FDA nos Estados Unidos, mostrando como são co-optados os testes de pesquisas com a finalidade de distorcer os resultados desses testes com esses medicamentos. Dessa forma escondem os sérios perigos, mesmo os efeitos colaterais mortais, de produtos com nomes conhecidos como Prozac®, Zoloft®, Aropax® e Zyprexa®.



A história se torna até mais assustadora quando nós olhamos para as táticas agressivas que estas poderosas companhias costumavam silenciar seus críticos proeminentes, difamando-os na imprensa, e usando seu dinheiro e poder para dispensar cientistas amplamente respeitados e eminentes pesquisadores médicos se ousarem assinalar os perigos e os riscos de suicídio e morte prematura causados por tais drogas.



Whitaker começa desconstruindo a exagerada eficiência dessas drogas amplamente divulgadas como medicamentos maravilhosos - antidepressivos como Prozac®, Zoloft® e Aropax®, e as novas drogas anti-psicóticas atípicas como o Zyprexa®. Sua pesquisa mostra como eles de um modo geral são escassamente mais efetivos do que placebos no tratamento de desordens mentais e depressão, apesar da ampla adulação que eles recebem na mídia popular.



Porém ele prossegue fazendo mais declarações surpreendentes: estas novas drogas psiquiátricas contribuem diretamente para uma alarmante nova epidemia de doenças mentais induzidas por drogas. Medicamentos popularmente prescritos pelos médicos para estabilizar desordens mentais de fato estão induzindo mudanças patológicas na química cerebral e levando ao suicídio, a episódios maníacos e psicóticos, convulsões, violência, diabetes, falência pancreática, doenças metabólicas, e morte prematura.



Whitaker originalmente era repórter médico de grande reputação do Albany Times Union e também atuava para Boston Globe. Uma série que ele co-escreveu para o Boston Globe sobre os perigos da pesquisa em psiquiatria lhe deixou finalista ao Prêmio Pulitzer em 1998. Quando ele começou a sua pesquisa investigativa em temas psiquiátricos, Whitaker ainda era um partidário da história sobre o progresso que a psiquiatria vinha informando ao público nas últimas décadas.



Ele disse, "eu absolutamente acreditava no senso comum de que estas drogas anti-psicóticas realmente melhoraram as coisas e que elas revolucionaram totalmente a forma como nós tratamos a esquizofrenia. As pessoas costumavam ser presas, afastados de suas casas para sempre, e agora talvez as coisas não sejam as ideais, mas seriam muito melhores. Era uma história de progresso."



Tal história de progresso era fraudulenta, como Whitaker logo descobriu quando ele adquiriu novos insights a partir de suas pesquisas de práticas psiquiátricas de tortura como eletro-choque, lobotomia, coma por insulina, e drogas neurolépticas. Os psiquiatras informaram ao público que essas técnicas curavam psicose ao equilibrar a química do cérebro.



Mas, na realidade, a linha comum em todos estes diversos tratamentos foi a tentativa de suprimir a "doença mental" ao prejudicar deliberadamente as funções mais elevadas do cérebro. A atordoante verdade é essa, atrás de portas fechadas, o próprio stablishment psiquiátrico etiquetou estes tratamentos como "terapêutica prejudicial ao cérebro."



A primeira geração de drogas anti-psicóticas criaram uma patologia droga-induzida no cérebro ao bloquear um neurotransmissor, a dopamina, em essência obstruindo muitas funções cerebrais elevadas. De fato, quando os anti-psicóticos como a clorpromazina e o haloperidol foram inicialmente introduzidos, os próprios psiquiatras disseram que estas drogas neurolépticas eram virtualmente indistinguíveis de uma lobotomia química.



Em anos recentes, a mídia tem alardeado a chegada de medicamentos de design especial como Prozac®, Aropax® e Zyprexa®, que deverão ser superiores e ter menos efeitos colaterais que os antigos antidepressivos tricíclicos e os primeiros anti-psicóticos. Os milhões de americanos que acreditaram nesta história têm enriquecido companhias farmacêuticas como a Eli Lilly ao gastar bilhões de dólares anualmente comprando estes novos medicamentos.



A pesquisa do Whitaker nos casos trágicos de doença, sofrimento e as primeiras mortes causadas por tais drogas mostram que esses milhões de consumidores foram enganados por uma gigantesca campanha de mentiras, distorções, e pesquisas de remédios forjadas. Eminentes pesquisadores médicos que tentaram nos advertir dos perigos destas drogas foram silenciados, intimidados e difamados. Nesse processo, o FDA se tornou um cão de estimação para a poderosa indústria farmacêutica, e não um cão de guarda para a população.



Tha street spirit entrevistou Robert Whitaker sobre esta nova "epidemia" de desordens mentais, e como as companhias farmacêuticas lucraram ao venderem drogas que nos tornam mais enfermos.





A entrevista:



Street Spirit: Sua nova linha de pesquisa indica que existe um enorme aumento na incidência de doença mental nos Estados Unidos, apesar dos aparentes avanços na nova geração das drogas psiquiátricas. Por que você se refere a este aumento como uma epidemia?



Robert Whitaker: Até mesmo pessoas como o psiquiatra E. Fuller Torrey, que escreveu isso recentemente em um livro, podem dizer que parece que nós estamos tendo uma epidemia de doença mental. Quando o Instituto Nacional de Saúde Mental publica seus gráficos sobre a incidência de doença mental, você vê estes crescentes números de pessoas mentalmente enfermas. Alguns relatórios recentes dizem que quase 20 por cento dos americanos estão mentalmente doentes na atualidade.

Então o que eu quis fazer foi em dobro. Eu quis examinar exatamente o quão dramático é este aumento na doença mental, e principalmente na doença mental severa. Parte desta subida no número das pessoas ditas serem mentalmente doentes é apenas por redefinição. Atualmente nós concebemos um espectro muito grande onde lançamos todos os tipos de pessoas naquelas categorias de doença mental. Então, crianças que não ficam sentadas um tempo suficiente nas suas salas de aula parecem ter o Distúrbio de Déficit de Atenção e Hiperatividade (DDAH), além de nós criarmos uma nova enfermidade chamada de Distúrbio de Ansiedade Social.



SS: Então o que costumava ser chamada simplesmente de timidez ou ansiedade no relativo às pessoas, está agora sendo etiquetado como uma desordem mental, e você supostamente necessitará de um antidepressivo como a paroxetina para um tal de distúrbio de ansiedade social.

RW: Exatamente. Ou você precisa de um estimulante como Ritalina® para DDHA.



SS: Isso aumenta os clientes em psiquiatria, como também não aumenta o número de pessoas para as quais essas gigantescas companhias farmacêuticas podem vender suas drogas psiquiátricas?

RW: Evidente. Então parte do que nós estamos vendo é nada mais do que a criação de um mercado maior para tais medicamentos. Se você pensar sobre isto, uma vez que nós desenhamos um círculo tão grande quanto possível, ao expandir os limites da doença mental, a psiquiatria pode ter mais clientes e vender mais drogas. Então existe um incentivo econômico intrínseco para que se defina doença mental nas mais amplas perspectivas possíveis, e dessa formar transformar situações ordinárias, emoções estressantes ou comportamentos que algumas pessoas podem não gostar, tudo isso poderia ser rotulado como doença mental.



SS: Sua pesquisa também mostra que existe um aumento real nas pessoas que têm uma desordem mental severa. Agora, embora isso possa parecer contraditório, mas na verdade você acredita que muito deste aumento seria causado pelo excesso de uso de algumas dessas novas gerações de drogas psiquiátricas?

RW: Sim, exatamente. Eu examinei ao número daqueles classificados como doentes mentais severamente inválidos -- pessoas que não estão trabalhando, ou que são de alguma maneira disfuncional por causa da doença mental. Então eu tentei classificar ao longo da história a porcentagem da população que é considerada como um doente mental incapacitado.

Então, em 1903, nós vemos que aproximadamente 1 de cada 500 pessoas nos Estados Unidos era hospitalizada por doença mental. Em 1955, no começo da era moderna das drogas psiquiátricas, aproximadamente uma de cada 300 pessoas era inválida por doença mental. Mais tarde, vamos para 1987, o final da primeira geração de drogas anti-psicóticas; e de 1987 adiante nós alcançamos as drogas psiquiátricas modernas. De 1955 até 1987, durante esta primeira era de drogas psiquiátricas -- as drogas anti-psicóticas Amplictil® e Haldol® e os antidepressivos tricíclicos (como Tryptanol® e Anafranil®) -- nós verificamos que o número de doentes mentais incapacitados aumentar em quatro vezes, chegando ao ponto onde aproximadamente uma de cada 75 pessoas serem julgadas como inválidas por doença mental.

Pois bem, ocorreu uma mudança na forma como nós cuidamos do doente mental entre 1955 e 1987. Em 1955, nós os estávamos hospitalizando. Porém, em 1987, nós passamos por uma mudança social, e a partir daí nós estávamos colocando essas pessoas em abrigos, casas de apoio, ou outro tipo de cuidado comunitário, além de dar a eles pagamentos da seguridade social (SSI/SSDI payments) por inaptidão mental. Em 1987, nós começamos a utilizar os supostamente melhores, medicamentos psiquiátricos de segunda geração como o Prozac® e os demais antidepressivos ISRS – inibidores seletivos de recaptação de serotonina. Logo em seguida, nós recebemos essas novas drogas, os anti-psicóticos atípicos como Zyprexa® (olanzapine), Leponex® e Risperidal®.

O que tem acontecido desde 1987? Bem, a taxa de inaptidão continuou a aumentar até chegar aos atuais: um para cada 50 americanos. Reflita sobre isto: um de cada 50 americanos é inválido por doença mental na atualidade. E isso ainda está num crescente. O número das pessoas mentalmente inválidas nos Estados Unidos tem aumentado na taxa de 150.000 pessoas por ano desde 1987. Isto é um aumento diário, ao longo dos últimos 17 anos, de 410 pessoas por dia ficando incapacitada por doença mental.



SS: Isso nos leva a pergunta óbvia. Se psiquiatria introduziu estas drogas tidas como maravilhosas como Prozac® e Zoloft® e Zyprexa®, porque a incidência da doença mental está subindo dramaticamente?

RW: Essa é a questão. Isto é uma pergunta científica. Nós temos uma forma de atendimento onde nós estamos usando estas drogas de um modo cada vez mais inclusivo, como supostamente nós temos medicamentos melhores e eles são a base dos nossos tratamentos, conseqüentemente nós deveríamos ver taxas de inaptidão decrescente. Esse seria o cenário esperado.

Mas ao contrário, de 1987 até o presente, nós vimos um aumento no número das pessoas mentalmente inválidas que passou de 3.3 milhões de indivíduos até os atuais 5.7 milhões nos Estados Unidos. Nesse período, nossos gastos com drogas psiquiátricas aumentaram a um nível surpreendente. Os gastos combinados com medicamentos antidepressivos e anti-psicóticos saltaram de algo ao redor de US$500 milhões em 1986 para quase US$20 bilhões em 2004. Por isso nós levantamos a questão: seria o uso dessas drogas que realmente, de algum modo, alavancou este aumento no número de doentes mentais?

Quando você examina a literatura de pesquisa, você encontra um padrão claro nos resultados com todos esses remédios - você vê isto com os anti-psicóticos, os antidepressivos, as drogas anti-ansiedade e os estimulantes como Ritalina® usada para tratar ADHD. Todas estas drogas podem restringir um sintoma alvo de forma ligeiramente mais eficaz do que um placebo o faz, por um período pequeno de tempo, digamos seis semanas. Um antidepressivo pode melhorar os sintomas de depressão melhor do que um placebo por um curto prazo.

Você verifica com qualquer classe dessas drogas psiquiátricas uma agravação do sintoma alvo de uma depressão ou psicose ou ansiedade a longo prazo, em comparação aos pacientes tratados com placebo. Então, mesmo nos sintomas alvo, existem maior cronicidade e severidade nos sintomas. E você vê uma porcentagem bastante significativa de pacientes onde sintomas psiquiátricos novos e mais severos são ativados pela própria droga.



SS: Novos sintomas psiquiátricos são criados pelas inúmeras drogas que as pessoas utilizam pois foram informadas que lhes ajudaria a recuperação?

RW: Exato. O caso mais óbvio é com os antidepressivos. Uma porcentagem das pessoas colocadas sob uso de ISRSs, porque eles têm algum grau de depressão sofrerá ou um ataque maníaco ou psicótico – induzido por drogas. Isto está bem reconhecido. Então agora, em vez de só lidar com depressão, eles estão lidando com mania ou sintomas psicóticos. E uma vez que eles apresentem um episódio maníaco induzido por drogas, o que acontece? Eles vão para um quarto de emergência, e naquele momento eles estarão sendo novamente diagnosticados. A partir de então serão informados de serem bipolares e lhes será adicionado um anti-psicótico ao uso do antidepressivo; E, naquele momento, eles estão movendo ladeira abaixo para uma incapacidade crônica.



SS: A moderna psiquiatria reivindica que esses medicamentos psicoativos corrigem uma química cerebral patológica. Existe alguma evidência que suporte essa apologia de que uma química cerebral anormal é a culpada pela esquizofrenia e depressão?

RW: Isso é o aspecto chave que todo mundo precisa entender. Realmente é a resposta que destranca este mistério do porque as drogas teriam aquele efeito problemático a longo prazo. Começamos pela esquizofrenia. Eles imaginaram que tais drogas trabalham corrigindo um desequilíbrio de um neurotransmissor: a dopamina no cérebro.

A teoria seria que as pessoas com esquizofrenia teriam sistemas dopaminérgicos hiperativos; e esses medicamentos, ao bloquear a dopamina no cérebro, consertariam tal desequilíbrio químico. Dessa forma, você obtém a metáfora de que eles são como insulina é para a diabetes; eles estão consertando uma anormalidade. Com os antidepressivos, a teoria seria de que as pessoas com depressão teriam níveis muito baixos de serotonina; As drogas elevam os níveis de serotonina no cérebro e dessa forma eles estão equilibrando essa química no cérebro.



Em primeiro lugar, essas teorias nunca surgiram de investigações sobre o que realmente estava acontecendo com as pessoas. Pelo contrário, como eles descobriram que os anti-psicóticos bloqueavam a dopamina eles teorizaram que tais indivíduos teriam um sistema dopaminérgico hiperativo. O mesmo aconteceu com os antidepressivos. Eles verificaram que os antidepressivos elevavam os níveis de serotonina; então, eles teorizaram que as pessoas com depressão deveriam ter níveis baixos de serotonina.

Mas esse é o aspecto que eu desejaria que toda a América precisa saber e desejaria que a psiquiatria devesse esclarecer: Eles nunca puderam verificar que as pessoas com esquizofrenia teriam sistemas hiperativos de dopamina. Eles nunca puderam constatar que as pessoas com depressão teriam um sistema de serotonina hipoativo. Eles nunca provaram de forma consistente que quaisquer dessas enfermidades são associadas com qualquer desequilíbrio de substâncias químicas no cérebro. A história de que as pessoas com desordens mentais têm reconhecidos desequilíbrios químicos - isto é uma mentira. Nós definitivamente não sabemos. É algo dito apenas para ajudar vender tais drogas e ajudar a vender o modelo biológico das desordens mentais.

Mas o ponto é esse. Nós sabemos, de fato, que estas drogas perturbam a forma como estes mensageiros químicos trabalham no cérebro. O paradigma real é: As pessoas diagnosticadas com desordens mentais não têm nenhum problema conhecido em seus sistemas de neurotransmissores; e estas drogas perturbam a função normal dos neurotransmissores.



SS: Então em lugar de corrigir um desequilíbrio químico, esses medicamentos infinitamente prescritos corrompem a química cerebral e a tornam enferma.

RW: Com certeza. Stephen Hyman, um famoso neuro-cientista e antigo diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental (INSM), escreveu um artigo em 1996 que avaliava como as drogas psiquiátricas afetam o cérebro. Ele escreveu que todas estas drogas criam perturbações em funções dos neurotransmissores. E ele observa que o cérebro, em resposta para esta droga externa, altera suas funções normais e interpõe uma série de adaptações compensatórias.

Em outras palavras, tenta se adaptar para o fato que uma droga anti-psicótica está bloqueando as funções normais da dopamina. Ou no caso dos antidepressivos, tenta compensar o fato de que você está bloqueando a re-captação da serotonina. A maneira como ele faz isso é se adaptar no sentido oposto. Então, se você for bloquear a dopamina no cérebro, o cérebro tenta liberar mais dopamina e realmente aumenta o número de receptores de dopamina. Dessa forma uma pessoa colocada sob drogas anti-psicóticas acabam tendo um número anormalmente alto de receptores de dopamina no cérebro.

Se você der a alguém um antidepressivo, e isso tenta manter os níveis de serotonina muito elevados no cérebro, ele faz exatamente o oposto. Ele cessa a produção da serotonina habitual e reduz o número de receptores de serotonina no cérebro. Então alguém que está sob uso de antidepressivo, depois de um tempo acaba com um nível anormalmente baixo de receptores de serotonina no cérebro. Assim o que Hyman concluiu sobre isso: Depois que estas mudanças aconteceram, o cérebro do paciente fica funcionando de um modo que é "qualitativamente tanto quanto quantitativamente diferente do estado normal." Então o que Stephen Hyman, antigo diretor do INSM, fez foi definir o presente paradigma de como estas drogas afetam o cérebro mostrando que elas estão induzindo a um estado patológico.



SS: Então o paradoxo é que não existe nenhuma evidência que suporte ao conclame da psiquiatria moderna de que existe algum desequilíbrio bioquímico patológico no cérebro que causa doença mental, mas se você tratar pessoas com estas novas drogas espetaculares, então você cria esses desequilíbrios patológicos?

RW: Sim, estas drogas corrompem a química normal do cérebro. Temos então aqui o real paradoxo! E a tragédia real é, que até que nós negociamos essas drogas como equilibradores químicos, fixadores químicos, quando na verdade nós estamos fazendo justamente o oposto. Nós estamos tomando um cérebro que não tem qualquer desequilíbrio químico sabidamente anormal, e ao colocar essas pessoas sob drogas, nós estamos instabilizando aquela química normal. Aqui é como Barry Jacobs, um neuro-cientista de Princeton, descreve o que acontece com uma pessoa que recebe um antidepressivo da família dos ISRSs. "Estas drogas," ele disse, "alteram o nível da transmissão sináptica para fora de taxas fisiológicas alcançadas sob condições biológicas ambientais normais. Deste modo, qualquer mudança no comportamento ou fisiologia produzida sob essas condições deveria ser apropriadamente considerada patológica ao invés de refletir o papel biológico normal da serotonina."



SS: Um dos antidepressivos ISRS que é amplamente creditado em ser uma droga maravilhosa é o Prozac®. Porém sua pesquisa verificou que o FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos Federal dos EEUU) tem recebido mais relatos de efeitos co-laterais sobre o Prozac® do que qualquer outro medicamento. Qual tipo de efeitos maléficos as pessoas estão relatando?

RW: Em primeiro lugar, o Prozac® e os demais sucessores da mesma família ISRSs, tem seu nível de eficácia sempre num caráter marginal. Em todos os testes clínicos dos antidepressivos, aproximadamente 41 por cento dos pacientes melhoram num curto prazo contra 31 por cento dos pacientes com placebo. Agora veja a advertência disso! Se você usar um placebo ativo nestes testes - um placebo ativo causa uma mudança fisiológica sem benefício, como uma boca seca - qualquer diferença no resultado entre o antidepressivo e placebo virtualmente desaparece.



SS: Os testes medicamentosos mais iniciais com o Prozac® foram tão pouco promissores que eles tiveram que manipular os resultados dos testes para conseguir a aprovação do FDA?

RW: O que aconteceu com Prozac® é uma história fascinante. Desde o início, eles notaram uma eficácia discretamente acima de um placebo; e eles observaram que eles tiveram alguns problemas com suicídio. Existiriam aumentadas respostas suicidas comparadas ao placebo. Em outras palavras, as drogas estavam agitando as pessoas e tornando pessoas suicidas que não tinham potencial suicida prévio. Eles estavam obtendo respostas maníacas em pessoas que não tinham sido maníacas anteriormente. Eles estavam obtendo episódios psicóticos nas pessoas que não tinham quadros psicóticos prévios. Então você estava vendo estes efeitos colaterais muito problemáticos até ao mesmo tempo em que você estava observando alguma eficácia muito modesta, se alguma, maior do que um placebo para melhorar a depressão.

Basicamente, o que a Eli Lilly (Fabricante do Prozac®) teve que fazer foi encobrir a psicose, encobrir a mania; e, dessa maneira, podia conseguir obter a aprovação para essas drogas. Um revisor do FDA até advertiu que o Prozac® parecia ser uma droga perigosa, mas seria aprovada de qualquer maneira.

Nós aparentemente estamos sabendo de tudo isso somente agora: "Oh, o Prozac® pode causar impulsos suicidas e todos esses ISRSs podem aumentar o risco de suicídio." O ponto é: isso não era nada novo. Aqueles dados já estavam documentados desde os primeiros ensaios. Você teve pessoas na Alemanha dizendo, "eu penso que esa é uma droga perigosa."



SS: Mesmo voltando ao final dos anos 1980, eles já eram conhecidos?

RW: Antes do final dos anos 1980 - no início dos anos 80, antes do Prozac® ser aprovado. Basicamente o que a Eli Lilly teve que fazer foi encobrir os riscos de mania e psicose, ocultar que algumas pessoas estavam ficando suicidas porque eles estavam ficando com esta agitação nervosa do Prozac®. Essa foi a única maneira para obter aprovação.

Existiriam várias maneiras que eles utilizaram para esse encobrimento. Uma seria simplesmente remover os relatos de psicose da base de dados. Eles também voltaram e recodificaram alguns dos resultados dos ensaios. Vamos dizer que alguém teve um episódio maníaco ou um episódio psicótico; em vez de assinalar isto, eles só apontariam para um retorno da depressão, ou coisa parecida. Então existia uma necessidade básica em esconder estes riscos desde o início, e isso foi feito.



Então o Prozac® é aprovado em 1987, e é lançado em uma campanha de marketing surpreendente. A pílula propriamente foi apresentada na capa de várias revistas! É como a Pílula do Ano [risos]. E ele parece ser muito mais seguro: um remédio dos sonhos. Nós temos médicos dizendo, "Oh, o problema real com esta droga é que nós podemos agora criar qualquer personalidade que nós desejamos. Nós ficamos tão qualificados com essas drogas que se você quiser ter muito prazer o tempo todo, tome sua pílula!"

Isso era uma tolice completa. As drogas eram apenas fracamente melhores do que placebos no alivio de sintomas depressivos no curto prazo. Você teve todos estes problemas; e nós ainda estávamos elogiando em demasia estas drogas, dizendo: "Oh, os poderes da psiquiatria são tais que nós podemos dar a você a mente que você quer – projetamos uma personalidade!" Era absolutamente obsceno. Entretanto, qual foi o medicamento, que depois de ser lançado, que mais rapidamente se transformou na droga com mais reclamações nos Estados Unidos? O Prozac®!



SS: Qual foi o índice de reclamações quando o Prozac® chegou ao mercado?

RW: Nesta aferição, nós temos o Medwatch, um sistema de relato onde nós reportamos eventos adversos das drogas psiquiátricas ao FDA. A propósito, o FDA tenta manter estes relatórios negativos distantes do público. Então, em vez do FDA manter esses dados facilmente disponíveis para o público, para que você possa conhecer os riscos de tais medicamentos, é muito duro chegar a estes relatórios.

Dentro de uma década, existiram 39.000 relatos adversos sobre o Prozac® que foi enviado para o Medwatch. Acredita-se que o número de eventos adversos enviados ao Medwatch represente só um por cento do número real de tais eventos. Então, se nós conseguirmos 39.000 relatos de evento adversos sobre o Prozac®, o número de pessoas que realmente sofreram tais problemas é estimado ser 100 vezes maiores, ou aproximadamente quatro milhões das pessoas! Isso faz do Prozac® o medicamento mais reclamado da América, sem dúvida. Existiram mais relatos de eventos adversos recebidos sobre o Prozac® em seus primeiros dois anos de mercado do que tinha sido reportado ao principal antidepressivo tricíclico em 20 anos!

Lembre, o Prozac® foi lançado ao público Americano como uma droga maravilhosamente segura, e sobre o que as pessoas estão reclamando? Mania, depressão, psicose, nervosismo, ansiedade, agitação, hostilidade, alucinações, perda de memória, tremores, impotência, convulsões, insônia, náusea, impulsos suicidas. É uma grande variedade de sintomas graves.



E aqui temos o surpreendente. Não foi apenas o Prozac. Uma vez que nós tivemos os demais ISRSs no mercado, como o Zoloft® e Aropax®, em 1994, quatro antidepressivos dessa família estavam entre os 20 “tops” de reclamação entre as medicações da lista do Medwatch do FDA. Em outras palavras, todas destas drogas trazidas para comercialização começaram a ativar esta amplitude de eventos adversos. E esses não eram eventos menores. Quando você fala a respeito de mania, alucinações e depressão psicótica estamos falando de eventos adversos graves.

Prozac® foi lançado para o público americano como uma droga maravilhosa. Foi apresentado nas capas de revistas como tão seguras, e como um sinal de nossa habilidade maravilhosa de induzir o cérebro da forma como nós desejássemos. Na verdade, os relatórios estavam mostrando que nós poderíamos ativar muitos eventos perigosos, inclusive o suicídio e a psicose.

O FDA estava sendo advertido sobre isto. Eles estavam recebendo uma inundação de relatórios de eventos adversos, e o público nunca foi informado sobre isso para um longo período de tempo. Levou uma década para que o FDA começasse a reconhecer o aumento de suicídios e de violência que pode ser ativados em algumas pessoas. Isso só mostra como o FDA traiu o povo americano. Isto é um exemplo clássico. Eles traíram sua responsabilidade em agir como um cão de guarda para o povo americano. Pelo contrário eles agiram como uma agência de encobrimento dos danos e riscos dessas drogas.



SS: Levando em conta o fracasso do FDA para nos advertir sobre Prozac®, qual foi sua recente negligência no assunto do risco de suicídio com os antidepressivos para crianças tratadas com remédios como o Aropax®? Não seriam os oficiais de saúde mental da Inglaterra muito melhores que seus colegas americanos no FDA na advertência sobre os perigos de tentativas de suicídio quando esses antidepressivos foram administrados aos adolescentes?

RW: Sim. A história das crianças é incrivelmente trágica. Também é uma história realmente sórdida. Vamos voltar um pouco para ver o que aconteceu às crianças sob antidepressivos. O Prozac® chegou ao comércio em 1987. No início dos anos 90, as companhias farmacêuticas que fabricavam estas drogas estão dizendo, "O que podemos fazer para expandir o mercado para os antidepressivos?" Porque é isso que as companhias farmacêuticas fazem - elas querem chegar a um número sempre maior de indivíduos. Eles viram que eles tiveram um mercado em aberto com as crianças. Então vamos começar a vender essas drogas para crianças. E eles foram bem sucedidos. Desde 1990, o uso de antidepressivos em crianças subiu em torno de sete vezes. Eles começaram a prescrever por bem ou por mal.

Atualmente, sempre que eles fazem testes pediátricos com os antidepressivos, eles verificam que tais drogas não são mais efetivas nos sintomas objetivos da depressão do que o placebo. Isso aconteceu repetidamente nos testes pediátricos com essas drogas antidepressivos. Então, o que isso informa é que não existe nenhuma razão terapêutica real para o emprego dessas drogas nesta população de crianças, porque as drogas nem mesmo os reduzem os sintomas alvo por um curto prazo de forma melhor do que o placebo; e além do mais eles estavam causando todos os tipos de eventos adversos.

Por exemplo, em uma pesquisa, 75 por cento das crianças tratadas com antidepressivos sofreram algum evento adverso de qualquer espécie. Em um estudo pela Universidade de Pittsburgh, 23 % das crianças tratadas com um ISRS desenvolveu mania ou sintomas tipo maníaco; um adicional de 19 % desenvolveu hostilidade droga-induzida. Os resultados clínicos estavam lhe informando que você não conseguiu qualquer benefício na depressão; e você podia criar todos os tipos de problemas reais nas crianças - mania, hostilidade, psicose, e você pode até induzir suicídio. Em outras palavras, não use estas drogas, correto? Isso foi totalmente encoberto.



SS: Como foi ocultado?

RW: Nós tivemos psiquiatras - alguns desses obviamente receberam dinheiro das companhias medicamentosas - dizendo que as crianças estão sub-tratadas e eles estão em risco de suicídio e como nós poderíamos possivelmente tratar as crianças sem essas pílulas e que tragédia seria se nós não pudéssemos usar estes antidepressivos.

Finalmente, um pesquisador proeminente na Inglaterra, David Healy, começou a fazer sua própria pesquisa na habilidade destas drogas em promover suicídio. Ele também conseguiu conseguir acesso a alguns dos resultados de pesquisas e ele “soou o alarme”. Ele primeiro soou esse alarme na Inglaterra e ele apresentou esses dados em revisões por lá mesmo. E eles verificaram que aparentemente essas drogas estão aumentando o risco de suicídio e não existe realmente nenhum sinal de benefícios nos sintomas objetivos de depressão. Então eles começaram a se mobilizar por lá para advertir os médicos a não prescrever tais drogas para a juventude.

O que acontece nos Estados Unidos? Bem, foi só depois de existir muita pressão colocada sobre o FDA que eles captaram a mensagem. O FDA reclassificou o risco dessas drogas. Eles foram lentos até mesmo para por advertências, faixas pretas, nas caixas desses produtos. Por quê? As vidas das crianças não são um bem a ser protegido? Se nós sabemos que temos demonstrações científicas dos riscos que esses remédios apresentam ao aumentar suicídio, não deveríamos ao menos publicar uma advertência sobre isso? Mas o FDA foi negligente até mesmo para colocar essa advertência nas embalagens desses produtos.



SS: Se o Prozac® é o remédio mais reclamado do país, se o Aropax® foi demonstrado ser um risco de suicídio para a juventude, como foi que esses antidepressivos continuaram a ter uma reputação tão mágica de curas para a depressão? E por que o FDA falhou em nos advertir sobre Aropax® e Prozac® para tanto tempo?

RW: Existem algumas razões para isto. Os fundos do FDA se modificaram em 1990. Um decreto permitiu que muito dos fundos do FDA viessem das indústrias farmacêuticas: o decreto PDUFA (Prescription Drug User Fee Act – Decreto de Taxa de Usuário para Drogas de Prescrição). Basicamente, quando as companhias farmacêuticas solicitavam aprovação ao FDA eles teriam que pagar uma taxa. Esses honorários se tornariam grande parte dos recursos das revisões do FDA sobre as aplicações dos medicamentos.

No final de contas, de repente, os recursos começaram a vir da indústria farmacêutica; não vinha mais do povo. Como esse decreto surgiu para renovação, basicamente os lobistas das fábricas de medicamentos estão dizendo que o trabalho do FDA não seria uma análise crítica das drogas, mas sim aprovar rapidamente essas drogas. E isso foi parte do pensamento de Newt Gingrich: seu trabalho era obter drogas para comercializar. Comece a ser parceiro da indústria farmacêutica e facilitar o desenvolvimento de medicamentos. Nós perdemos a idéia de que o FDA teria um papel de cão de guarda.

Também, de um modo humano, muitas pessoas que trabalham para o FDA abandonam para acabar indo para trabalhar para as companhias de medicamentos. A piada velha é que o FDA é um tipo de vitrina para um futuro emprego na indústria farmacêutica. Você vai lá, você trabalha por algum tempo, então você sai para a indústria de remédios. Bem, se esse é a progressão que as pessoas fazem, em essência eles estão fazendo uma rede de relações de bons meninos, para tanto eles não vão ser tão severos com as companhias farmacêuticas. Então, é isso que realmente aconteceu nos anos 1990. O FDA receberia novas ordens de marcha. As ordens eram: "Facilite a obtenção de medicamentos para o mercado. Não seja muito crítico. E, de fato, se você quiser manter seus recursos financeiros, que a partir de então estavam vindo da indústria farmacêutica, tenha certeza que você entendeu essas lições de sobrevivência."



SS: Então as gigantes companhias farmacêuticas têm um enorme poder de cozinhar os resultados dos testes das drogas, fazendo os pesquisadores e até o próprio FDA a se curvar para a sua vontade?

RW: O FDA, em essência, foi submetido no início dos anos 90, e nós realmente vimos isto com as drogas psiquiátricas. O FDA se tornou um cão de colo para a indústria farmacêutica, e não um cão de guarda.

É só agora isto se tornou de conhecimento público. Nós temos Marcia Angel(*), uma antiga editora do New England Journal of Medicine, escreva um livro em que ela diz que o FDA se tornou um cão de companhia. Agora está basicamente bem documentado esse declínio. Como editora do New England Journal of Medicine, o o mais prestigioso jornal médico que nós temos, Marcia Angell é alguém que estava bem no coração da Medicina Americana, e ela concluiu que o FDA desaponta as pessoas americanas. E ela perdeu seu emprego no New England Journal of Medicine ao começar a criticar as companhias farmacêuticas.

Ela era a editora do jornal no final dos anos 1990 e havia um médico correspondente chamado Thomas Bodenheimer que decidiu escrever um artigo sobre como você não podia nem confiar no que era publicada nos jornais médicos por causa de toda a manipulação de resultados.

Então eles fizeram uma investigação sobre como as companhias farmacêuticas financiavam todas as pesquisas e manipulavam os resultados dos ensaios científicos, então você não poderia realmente ter confiança no que você lê nesse tipo de publicação. Eles assinalaram que quando eles tentaram conseguir um perito para revisar a literatura científica relacionada aos antidepressivos, eles basicamente não conseguiram encontrar alguém que não tivesse recebido algum dinheiro das companhias farmacêuticas.

Agora, o New England Journal of Medicine é publicado pela Sociedade Médica de Massachusetts que publica muitos outros jornais, e eles têm muita publicidade farmacêutica. Então o que acontece depois que aquele artigo ser publicado por Thomas Bodenheimer e um editorial acompanhado de Marcia Angell sobre o estado deplorável da medicina americana a respeito disto? Ambos perdem seus empregos! Ela foi demitida e o mesmo aconteceu com Thomas Bodenheimer. Pense sobre isso. Nós temos o principal jornal médico demitindo pessoas, deixando-os partir, porque eles ousaram criticar uma ciência desonesta e o processo desonesto que estava envenenando a literatura científica.

Então nós temos o FDA que está agindo como cães de companhia. Você não pode confiar na literatura científica. Tudo isso mostra como o público americano foi traído e não sabia sobre todos os problemas com estas drogas e por que foi ocultado deles. Isso tem a ver com dinheiro, prestígio e redes de velhos “bons meninos”.



SS: Isso também a ver com o silenciamento dos críticos. A Eli Lilly usa a mídia para alardear benefícios do Prozac® e dar vantagens para médicos que freqüentam conferências para ouvir sobre seus benefícios, e suborna pesquisadores. Mas eles também não usam seu poder e dinheiro para silenciar seus críticos?

RW: Um exemplo é Dr. Joseph Glenmullen, um psiquiatra que também trabalha para o Serviço de Saúde da Universidade de Harvard, e que escreveu um livro chamado Prozac Backlash (O Jogo Prozac) que advertia sobre os perigos do Prozac®. Ele entende que essas drogas estão sendo abusadas e que causam efeitos colaterais severos. Ele até levanta questões sobre os problemas de memória a longo prazo com as drogas e deficiência orgânica cognitiva. Bem, a Eli Lilly construiu uma campanha de marketing para tentar desacreditá-lo. Eles divulgaram notícias para a mídia questionando sua afiliação com a Escola Médica de Harvard, etc. Fazem tudo para silenciar os críticos.

Se você cantar a melodia que as companhias de droga querem, aos mais elevados níveis, você é pago com muito dinheiro para voar pelo mundo e dar apresentações sobre as maravilhas dessas drogas. E aqueles que vêm, e não fazem quaisquer perguntas embaraçosas, conseguem jantares de lagosta e talvez eles obtenham honorários para freqüentar essa reunião educacional. Então se você quiser ser parte dessas vantagens, você pode. Você canta as maravilhas dessa droga, e você não fala sobre seus efeitos colaterais sórdidos, e você pode conseguir um generoso pagamento como um de seus locutores convidados, ou como um de seus peritos.

Mas se você for um daqueles que estão dizendo: "E a respeito da mania, que tal a psicose?" - Eles silenciam você. Olhe para o que aconteceu para David Healy. Healy é até o melhor exemplo. David Healy tem esta reputação de extrema qualidade na Inglaterra. Ele é o escritor de vários livros na história da psicofarmacologia. Ele é como um antigo Secretário da Associação de Psicofarmacologia de lá. Ele recebeu uma oferta de trabalho na Universidade de Toronto para encabeçar seu departamento de psiquiatria. Então enquanto ele está esperando assumir aquela posição na Universidade de Toronto, ele vai para Toronto e preparou uma conferência sobre o risco elevado de suicídio com Prozac® e alguns outros ISRSs. Quando ele volta para casa, a oferta de trabalho foi rescindida.

Agora Eli Lilly doa algum dinheiro para a Universidade de Toronto? Absolutamente. Então, respondendo sua pergunta, sim, a Eli Lilly silencia seus dissidentes também.



SS: Qual é a história por detrás do pagamento secreto entre Eli Lilly e os sobreviventes que processaram a companhia depois que Joseph Wesbecker atirou em 20 colegas de trabalho após ser colocado sob uso de Prozac®?

RW: Durante esse julgamento em que a Eli Lilly estava sendo processada, o juiz iria permitir a demonstração de evidências muito prejudiciais contra a Eli Lilly. O juiz disse, "Vá em frente e apresente isso no julgamento." Mas a próxima coisa você já sabe, eles não apresentaram essas evidências; e de fato, de repente, os demandantes não mais estão apresentando as evidências mais significativas para continuarem seu julgamento. Então o juiz pergunta-se por que eles não estão apresentando seu melhor testemunho. Isso cheira a sujeira. Ele suspeita que a Eli Lilly pagou aos demandantes secretamente e parte do negócio era isso, os demandantes irão em frente com uma tentativa de fingimento de forma que a Eli Lilly ganhará o litígio. Então a Eli Lilly pôde conclamar, "Veja: nossa droga não faz as pessoas ficarem violentas."



E, realmente, foi isso que aconteceu. A Eli Lilly sentiu que iria perder esse julgamento. Eles foram aos demandantes e disseram que lhes dariam muito dinheiro. Eles concordaram em ir em frente e arranjaram o caso, pois mantiveram os demandantes a irem até o final do julgamento. Desse modo a Eli Lilly pode publicamente reivindicar que eles ganharam a causa e que o Prozac® não causa dano.



SS: Como ficamos sabendo disso?

RW: Nós nunca teríamos conhecido essa história se não fosse por duas coisas. Uma, acredite nisto ou não, o juiz, em essência, apelou da decisão em seu próprio tribunal. Ele disse, "sinto mau cheiro nisso." E por isto, ele descobriu que existia esta determinação secreta e que era um processo de fingimento na sua continuação. Ele disse que era umas das piores violações à integridade do processo legal que ele já tinha visto. E segundo, um jornalista inglês chamado John Cornwell escreveu um livro chamado: Power to Harm: Mind, Medicine, and Murder on Trial (Poder para prejudicar: Mente, Medicina, e Assassinato no tribunal). Ele escreveu sobre este caso, e ainda nos Estados Unidos, nós praticamente não obtemos quase nenhuma notícia sobre esta determinação secreta e esta ampla perversão do processo legal. Seri um jornalista inglês que estariaa expondo esta história.

Meu ponto aqui é esse: eles silenciam pessoas como Marcia Angell. Eles pervertem o processo científico. Eles pervertem o processo legal. Eles pervertem o processo de revisão de medicamentos do FDA. Está em todos lugares! E é por isso que nós como uma sociedade acabamos acreditando nestas drogas psiquiátricas. Você fez a pergunta há pouco tempo atrás, "Por que nós ainda acreditamos no Prozac?" Uma das razões é que a história sobre o Prozac é, na realidade, suportada. É publicamente suportada porque nós mantemos esse silêncio sobre essas questões.

A outra coisa para lembrar é que algumas pessoas sob Prozac® se sentem melhores. Isto é verdade. Isso é o divulgado, mas da mesma forma algumas pessoas com o uso de placebos se sentem melhores. Mas aquelas são as histórias que são repetidas: "Oh, eu tomei Prozac e eu estou me sentindo melhor." É aquele grupo seleto que faz melhor para que essa história seja a informada, sendo a história que o público ouve. Assim, é por isso que nós continuamos a acreditar na história de que essas drogas sejam uma maravilha, que sejam muito seguras, apesar de todo esse material sujo que ficou coberto.



SS: Vamos agora nos mover dos antidepressivos como Prozac® e considerar outro novo grupo de drogas supostamente maravilhosos - as novas drogas anti-psicóticas. Você escreveu que o uso a longo prazo de drogas anti-psicóticas – ambas, os originais neurolépticos, remédios como o Amplictil ® e Haldol® e os mais recentes “atípicos” como Zyprexa® e Risperidal® - causam mudanças patológicas no cérebro o que pode levar a uma agravação dos sintomas de doença mental. Quais mudanças na química do cérebro resultam dos anti-psicóticos, e como isso leva ao principal e mais assustador aspecto que você descreveu – a doença mental crônica que ao qual se fica preso por tais substâncias?

RW: Essa é uma linha de pesquisa que atravessa 40 anos. Este problema de enfermidade crônica aparece de tempo em tempo repetidamente na literatura de pesquisa. Este mecanismo biológico está um pouco melhor compreendido agora. Os anti-psicóticos bloqueiam profundamente os receptores de dopamina. Eles bloqueiam entre 70-90 por cento dos receptores de dopamina no cérebro. Em resposta, o cérebro gera mais ou menos 50 por cento de receptores extra de dopamina. Tenta ficar hiper-sensível.

Então, em essência você teria criado um desequilíbrio no sistema da dopamina no cérebro. É quase como se, em uma mão, você tem o acelerador - isto é: os receptores de dopamina extra. E a droga é o freio tentando bloqueá-los. Mas se você libera esse freio, se você abruptamente para com as drogas, você agora tem um sistema de dopamina que é hiperativo. Você tem muitos receptores de dopamina. E o que acontece? As pessoas que tentam abruptamente largar os medicamentos tendem a ter graves recaídas.



SS: Então as pessoas que foram tratadas com estas drogas anti-psicóticas têm uma propensão maior para recaídas, e apresentar novos episódios de doença mental, ao invés das pessoas que tiveram outros tipos de terapias sem tais drogas?

RW: Exatamente, e isso foi entendido em 1979, que você realmente estava aumentando a vulnerabilidade biológica subjacente para a psicose. E a propósito, nós já classificamos um entendimento de que se você mexe com o sistema de dopamina, que você podia criar alguns sintomas de psicose com anfetaminas. Então se você der a alguém doses suficientes de anfetaminas, eles ficam sob risco aumentado de psicose. Isto está bem conhecido. E o que as anfetaminas fazem? Eles liberam dopamina. Então existe uma razão biológica por que, se você for mexer com o sistema de dopamina, você está aumentando o risco de psicose. Isto é em essência o que estas drogas anti-psicóticas fazem, eles incrementam o sistema da dopamina.

Veja aqui um impressionante estudo real sobre isso: pesquisadores da Universidade de Pittsburgh nos anos 90 tomaram pessoas recentemente diagnosticadas com esquizofrenia, e eles começaram a registrar imagens de ressonância magnética dos cérebros destas pessoas. Dessa forma nós conseguimos um retrato de seus cérebros no momento de diagnóstico, e então nós teremos imagens dos próximos 18 meses para verificar como esses cérebros se modificam. A partir daí durante 18 meses, eles estão sendo medicados com prescrições de anti-psicóticos, e o que os pesquisadores reportaram? Eles reportaram o seguinte, após este período de 18 meses, as drogas causaram um aumento dos gânglios da base, uma área do cérebro que usa dopamina. Em outras palavras, criaram uma mudança visível na morfologia, uma mudança no tamanho de uma área do cérebro, e isto é anormal. Isto é número um. Então nós temos uma droga anti-psicótica causando uma anormalidade no cérebro.

Agora aqui temos o ponto chave. Eles verificaram que como aquela amplificação aconteceu, era associada com uma agravação dos sintomas psicóticos, uma agravação dos sintomas negativos. Então aqui você realmente tem, com uma tecnologia moderna, um estudo muito poderoso. Por processamento de imagens do cérebro, nós vemos como agente externo entra, corrompe a química normal, causa um aumento anormal dos gânglios da base, e aquele aumento causa uma agravação de muitos sintomas que deveria tratar. Agora isto realmente é, em essência, a história de um processo de doença - um agente externo causa anormalidade, dá origem a sintomas...



SS: Mas neste caso, o agente externo que ativa o processo de doença é o suposto tratamento para a própria doença! A droga psiquiátrica é o agente causador de enfermidade.

RW: Isto é exatamente assim. É um atordoante, uma descoberta maldita. É o tipo de coisa que você diria, "Oh Cristo, nós devíamos ter feito algo diferente." Mas você imagina que tipo de incentivo financeiro esse pesquisadores receberam, após eles fazerem tal descoberta?



SS: Não, qual? Eu imaginaria que eles conseguiram recursos para executar estes mesmos estudos em outras classes de drogas psiquiátricas.

RW: Eles conseguiram recursos para desenvolver um implante, um implante no cérebro, que liberaria drogas como o Haldol® de forma contínua e ininterrupta! Um investimento para desenvolver um implante de liberação de medicamentos, dessa forma você poderia implantar isso nos cérebros das pessoas com esquizofrenia e assim eles até não teriam qualquer oportunidade para não tomar esses remédios!



SS: Incrível. Projetar um implante para fornecer uma dose constante de uma droga que eles acabaram de descobrir ser causa de patologia na química do cérebro.

RW: Certo, eles acabaram de verificar que eles estão causando uma agravação dos sintomas! Então por que você continuaria com um projeto de um implante permanente? Porque seria para isso que o dinheiro viria.

E ninguém quis lidar com este achado horrível de um aumento nos gânglios da base causado pelas drogas, associado com a agravação dos sintomas. Ninguém quis lidar com o fato de que quando você examinar as pessoas medicadas com anti-psicóticos, você começará a ver uma redução dos lobos frontais. Ninguém quer falar sobre nenhuma dessas coisas. Eles pararam essas pesquisas.



SS: Que outros efeitos colaterais são causados por uso prolongado destas drogas anti-psicóticas?

RW: Bem, você consegue a Discinesia Tardia (tardive dyskinesia), uma deficiência orgânica cerebral permanente; e a Acatisia, que seria uma agitação nervosa incrível. Você nunca fica confortável. Você quer se sentar, mas você não pode se sentar. É como se você estivesse rastejando fora de sua própria pele. E está associado com violência, suicídio e todos os tipos de coisas horríveis.



SS: Tais tipos de efeitos colaterais eram notórios com a primeira geração de drogas anti-psicóticas, como Amplictil®, Haldol® e Stelazine®. Mas, da mesma forma que com Prozac®, tantas pessoas estão ainda elogiando em demasia a nova geração de anti-psicóticos atípicos – Zyprexa®, Leponex® e Risperidal® - como drogas mágicas que controlam a doença mental com muito menos efeitos colaterais. Isto é verdade? O que você verificou?

RW: Não, é apenas uma completa tolice. De fato, eu penso que as mais novas drogas podem ser eventualmente estabelecidas como mais perigosas do que as antigas drogas, se isso fosse possível. Como você sabe, os neurolépticos conhecidos como Amplictil® e Haldol® tinham um relato reiterado de malefícios como a discinesia tardia e acatisia no máximo.

Então quando nós conseguimos as novas drogas atípicas, elas foram extraordinariamente badaladas como infinitamente mais seguras. Mas com essas novas atípicas, você consegue obter todos os tipos de deficiências orgânicas metabólicas.

Vamos falar sobre Zyprexa®. Tem um perfil diferente. Ele pode não causar muita discinesia tardia. Pode não dar origem a tantos sintomas de parkinson. Mas ele causa um amplo leque de novos sintomas. Então, por exemplo, provavelmente causa mais diabete. E provavelmente cause mais distúrbios pancreáticos. Provavelmente cause mais obesidade e distúrbios no controle do apetite.

Na verdade, pesquisadores na Irlanda reportaram em 2003 que desde a introdução dos anti-psicóticos atípicos, a taxa de mortalidade em meio às pessoas com esquizofrenia dobrou. Eles tomaram as taxas de mortalidade das pessoas tratadas com neurolépticos clássicos e posteriormente eles comparam com as taxas de mortalidade das pessoas tratadas com anti-psicóticos atípicos, e essas taxas dobraram. Ela dobrou! Não houve redução dos perigos. De fato, nesse estudo de sete anos, 25 de 72 pacientes morreram.



SS: Quais eram as causas de morte?

RW: Todos os tipos de enfermidades orgânicas, e isto é parte do ponto. Estamos ficando com problemas respiratórios, estamos tendo pessoas que morrem com taxas de incrivelmente elevadas de colesterol, com problemas de coração, com diabetes. Com olanzapina (Zyprexa®), um dos problemas é que você está realmente força de forma extrapolada o âmago do sistema metabólico. É por isso que você alcança estes enormes ganhos de peso, e você obtém uma diabetes. O Zyprexa® basicamente corrompe o “equipamento” que nós somos e que faz o processamento dos alimentos e da obtenção energética dessa comida. Então esse aspecto fundamental da função biológica humana é perturbado, e em algum momento você terá todos estes problemas pancreáticos, prejuízos da regulação da glicose, diabetes, etc. Isto é realmente um sinal que você é mexendo com algo muito fundamental para vida.



SS: Supostamente existe um aumento alarmante de doença mental sendo diagnosticada em crianças. Milhões são diagnosticados com depressão, sintomas bipolares e psicóticos, distúrbio de déficit de atenção e hiperatividade, e distúrbio de ansiedade social. Essa explosiva nova prevalência de doença mental no meio das crianças é um aumento real, ou é uma campanha de marketing que enriquece a indústria de drogas psiquiátricas, uma bonança para tais corporações farmacêuticas?

RW: Você está tocando em algo que realmente se trata de um escândalo trágico de proporções monumentais. Eu converso às vezes com classes de acadêmicos, classes de psicologia. Você não consegue acreditar qual é a porcentagem de jovens que foi estabelecida que seria mentalmente enferma desde crianças, de que algo estava muito errado com elas. É absolutamente fenomenal. É absolutamente cruel estar dizendo que tais crianças têm cérebros falidos e enfermidades mentais.

Existem duas coisas que estão acontecendo aqui. Um, claro, é que é uma completa tolice. Quando nos lembramos de nós quando crianças, você tem energia demais ou você se comporta às vezes de modo que não é totalmente apropriado, e você tem esses extremos de emoções, especialmente durante seus anos de adolescência. Ambos, crianças e adolescentes podem ser muito sentimentais. Então uma coisa que está acontecendo é que eles tomam alguns comportamentos da infância e começam a definir os comportamentos que eles não gostam de patológicos. Eles começam a definirem emoções que são desconfortáveis como patológicas. Então parte do que nós estamos fazendo é “patologização” da infância com uma definição inepta de trivialidades. Nós estamos patologizando, criando sofrimento no meio das crianças.

Por exemplo, se você for um filho de criação, e talvez você tenha recebido pouco conforto na loteria da vida e crescido em uma família disfuncional e você é colocado num orfanato, você sabe o que acontece hoje? Você muito provavelmente vai ser diagnosticado com uma desordem mental, e você vai ser colocado sob um medicamento psiquiátrico. Em Massachusetts, algo em torno de 60 a 70 por cento das crianças de orfanatos estão recebendo medicações psiquiátricas. Essas crianças não são mentalmente doentes! Elas conseguiram um tratamento injusto na vida. Elas acabaram em um lar de proteção, o que significa que eles estavam numa situação familiar ruim, e o que nossa sociedade faz? Eles dizem: "Você tem um cérebro defeituoso." Não seria a sociedade que seria ruim e você não conseguiu uma situação justa. Não, a criança tem um cérebro defeituoso e tem que ser colocada sob drogas. É absolutamente criminoso.

Deixe-me falar sobre desordem bipolar entre crianças. Como um médico disse, isso costumava ser tão raro que seria quase inexistente. Agora nós estamos vendo isso a todo momento. Os “bipolares” estão explodindo entre as crianças. Bem, em parte você poderia dizer que nós estamos apenas rotulando sem cautela as crianças mais freqüentemente; mas de fato, existe algo realmente acontecendo. Veja aqui o que está acontecendo. Você pega crianças e as coloca sob antidepressivo - que nós nunca costumávamos fazer - ou você as coloca sob uso de um estimulante como Ritalina®. Os estimulantes podem criar mania; os estimulantes podem criar psicose.



SS: E antidepressivos também podem causar mania, como você assinalou.

RW: Exatamente, então a criança pode acabar com uma crise maníaca droga-induzida ou episódio psicótico. Uma vez que elas têm isto, o médico na sala de emergência não diz, "Oh, ele está sofrendo de um episódio induzido por medicamentos." Ele diz que ele é bipolar!



SS: Então eles dão a criança uma nova droga para uma desordem mental causada pela primeira droga?

RW: Sim, eles dão a ele uma droga anti-psicótica; e agora a criança está sob um coquetel de drogas, e ela está em no curso de ficar inválido por toda a vida. Isto é um exemplo de como nós realmente estamos criando crianças doentes.



SS: É como se a sociedade ou suas escolas estejam tentando tornar eles manejáveis e eles acabam pondo as crianças em uma montanha russa química contra sua vontade.

RW: Absolutamente.



SS: Existe um número surpreendente de crianças recebendo Ritalina® para tratar hiperatividade. Mas qual menino de 10 anos de idade confinado em um banco escolar não é hiperativo? Você descreve que o efeito da Ritalina® no sistema da dopamina é bem parecido com a cocaína e as anfetaminas.

RW: Ritalina® é metilfenidato. De fato o metilfenidato afeta o cérebro exatamente do mesmo modo que a cocaína. Eles dois bloqueiam uma molécula que é envolvida na re-captação da dopamina.



SS: Então ambos aumentam os níveis de dopamina no cérebro?

RW: Exatamente. E eles fazem isto com um grau semelhante de potência. Então o metilfenidato é bem parecido com a cocaína. Agora, uma diferença é se você está aspirando isto ou se está em uma pílula. Esse aspecto modifica o quão rápido é sua metabolização. Mas de qualquer forma, basicamente afeta o cérebro de igual forma. Veja, o metilfenidato foi usado em estudos de pesquisa para deliberadamente manipular a psicose em esquizofrênicos. Uma vez que eles descobriram que você podia tornar uma pessoa com uma propensão para psicose, dê a eles metilfenidato, e produza a psicose. Nós também descobrimos que as anfetaminas, como o metilfenidato, podiam criar psicose nas pessoas que nunca tinham sido psicóticas anteriormente.

Então pense sobre isso. Nós estamos dando uma droga para crianças que é reconhecida em ter a possibilidade de ativar uma psicose. Agora, o estranho sobre o metilfenidato e as anfetaminas é o seguinte, em crianças, eles são reconhecidos de produzir um efeito paradoxal. O que a anfetamina faz nos adultos? Torna eles mais nervosos e hiperativos. Por alguma razão, para as crianças as anfetaminas as deixam realmente mais aquietam sua atividade; realmente as manterá em suas cadeiras e as tornam mais focadas. Então você captura as crianças em escolas tediosas. Os meninos não estão prestando atenção e eles são diagnosticados como DDHA e são colocados sob uma droga que é conhecida em promover psicose. A próxima coisa você já sabe, um número considerável delas não estarão funcionando bem quando elas tiverem uns 15, 16, ou 17 anos. Algumas daquelas crianças falarão sobre como se sentiam quando estando sob tais medicamentos a longo prazo, você começa a sentir como um zumbi; você não sente como se fosse você mesmo.



SS: Vazios, emoções embotadas. E isto está sendo feito com milhões de crianças.

RW: Milhões de crianças! Pense sobre o que nós estamos fazendo. Nós estamos roubando das crianças o seu direito de ser criança, o seu direito de crescer, seu direito de experimentar uma ampla possibilidade de plenas emoções, e seu direito de experimentar o mundo no mais amplo leque repleta de matizes de cores. Isso é que é o crescimento, isso é viver a vida! E nós estamos roubando das crianças do seu direito de ser. É tão criminoso. E nós estamos falando sobre milhões de crianças que foram afetadas desse modo. Existem algumas escolas onde algo em torno de 40 a 50 por cento das crianças chegam com uma prescrição psiquiátrica.



SS: Parece um enorme mecanismo de controle social. A sociedade dá às crianças Ritalina® e antidepressivos para subjugá-los e o faz para eles se ajustarem. Por um lado, é tudo controle e conformidade social. Mas também tem um enorme marketing recompensatório.

RW: Você está certo, cria clientes para os medicamentos, e clientes esperados serem praticamente para toda a vida. É assim que estamos sendo informados, certo? Eles são informados que eles vão estar sob essas drogas por toda vida. E num próximo estágio eles sabem, eles estarão sob mais duas ou três ou quatro drogas. É brilhante do ponto de vista capitalista. Também tem uma certa função de controle social. Mas você captura uma criança, e você a torna num cliente, e espero que ela seja um cliente vitalício. É brilhante.

Atualmente nós gastamos com antidepressivos nesse país que o Produto Nacional Bruto de países de tamanhos médio como a Jordânia. Uma quantia surpreendente de dinheiro. A quantia de dinheiro que nós gastamos em drogas psiquiátricas neste país é mais que o Produto Nacional Bruto de dois terços dos países do mundo. Apenas sob esse paradigma mental incrivelmente lucrativo em que você pode consertar desequilíbrios químicos do cérebro com tais drogas. Isso funciona muito bem sob o ponto de vista capitalista para a Eli Lilly. Quando o Prozac® veio para o comércio, o valor da Eli Lilly na Wall Street, sua capitalização, era ao redor de 2 bilhões de dólares. Pelo ano 2000, o tempo quando Prozac era sua droga número UM, sua capitalização alcançou 80 bilhões de dólares - um aumento de quarenta vezes.

Então, o que você necessariamente tem que examinar se você quer compreender porque as companhias farmacêuticas procuraram exaltar essa perspectiva com tamanha determinação. Trouxe bilhões de dólares em riqueza em termos de aumentos nos lucros para os donos e gerentes dessas companhias. Também se beneficia o stablishment psiquiátrico que se fortalece nas sombras dos medicamentos; eles fazem isso muito bem. Existe muito dinheiro que flui na direção daqueles que abraçaram essa maneira de tratamento. Existem anúncios que enriquecem a mídia. É tudo uma grande negociata.

Infelizmente, o custo é a desonestidade na nossa literatura científica, a corrupção do FDA, e o dano absoluto feito contra as crianças neste país tratadas neste sistema, e um aumento de 150.000 pessoas inválidas a cada ano nos Estados Unidos nos últimos 17 anos. Essa é um registro impressionante do dano produzido.



SS: Todo mundo fica rico -- as companhias farmacêuticas, os psiquiatras, os pesquisadores, as agências de publicidade - mas os clientes tornam suas mentes drogadas e a danificadas por toda a vida.

RW: E você sabe o que é mais interessante? Ninguém diz que a saúde mental do povo americano está melhorando. Pelo contrário, todo mundo diz que nós temos este problema num crescendo, eles culpam isto às tensões da vida moderna ou algo desse tipo, mas eles não querem examinar para o fato de que nós estamos produzindo doença mental.



(*)Márcia Angell – é autora do livro “A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos”, editora Record – faz parte dos livros sugeridos do site umaoutravisao.



(tradução: José C B Peixoto, médico)

Artigo do site www.umaoutravisao.com.br



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